A cada dia de novembro, 15 pessoas foram assassinadas no Estado do Rio. Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) divulgados nesta quinta-feira, o número de homicídios dolosos subiu 36,5%: foram 461 casos, um aumento de 121 vítimas em relação ao mesmo mês do ano passado. A nova estatística comprova que a população fluminense enfrenta uma escalada da violência — no acumulado dos últimos 11 meses, já são 4.572 assassinatos, 754 a mais (ou 19,7%) que no mesmo período de 2015. Em termos percentuais, os dados da capital são ainda piores. Os homicídios saltaram de 87 para 123 na cidade, o que equivale a um aumento de 41,37%.
A violência policial também disparou no mês passado. Subiu o número de mortes decorrentes de intervenções de agentes de segurança, antes classificadas como autos de resistência. A polícia matou mais de três pessoas por dia no estado, com aumento de 100% dos casos, de 47 para 94. No município, foi morta uma pessoa por dia, um crescimento de 175% (de 12 para 33), comparando novembro do ano passado com o mesmo mês de 2016.
Para a socióloga Julita Lemgruber, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes (CESeC/UCAM), os números são “vergonhosos” e revelam a falência da política de segurança pública do estado, baseada no projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).
— Esses números vergonhosos dão a sensação generalizada de que tudo está fora de controle. Os dados se relacionam a uma percepção de descrença na segurança pública tanto por parte de quem está envolvido em ilícitos quanto pelos próprios policiais, que agora trabalham com salários atrasados. Segundo pesquisa do CESeC, nem eles acreditam mais no projeto de pacificação — afirma a pesquisadora. — Até pouco tempo, essa política de segurança era festejada, falava-se em levá-la para outras cidades do estado, mas alguns especialistas sabiam que era algo insustentável a longo prazo. Uma política que concentra quantidade tão grande de recursos humanos só é possível num estado muito rico, o que não é o caso do Rio.
DIFERENTES TIPOS DE ASSALTOS AUMENTAM
Os crimes contra o patrimônio também dispararam. Os roubos de cargas tiveram aumento de 61,11%. Foram 1.102 no último mês, contra 684 ocorridos no mesmo período de 2015. Com relação ao número de assaltos, ocorre, em média, um a cada 40 minutos no estado, a maioria na Região Metropolitana. Também houve agravamento dos casos de roubos a transeuntes, que subiram de 5.410 para 8.690 (60,62%). Os roubos de celulares também registraram nova alta, saltando de 1.167 para 1.883 (61,35%). O mesmo ocorreu com roubos de veículos, que subiram 57,44%, totalizando 4.111 ocorrências no mês de novembro.
Em relação aos roubos de cargas, o Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística (SindiCarga) estima que o prejuízo médio com cada caminhão roubado é de R$ 100 mil — se for um frigorífico, o valor perdido chega a R$ 1 milhão. Com os dados de novembro, o número total é de impressionantes 13.603 veículos atacados por bandidos este ano — um rombo da ordem de R$ 1,3 bilhão, pelas contas do sindicato.
— Já temos mais assaltos a caminhões do que São Paulo, que, este ano, deve registrar 10 mil casos. Estamos superando um estado muito maior e mais rico nessa estatística absurda. Os ladrões conseguiram instaurar a cultura do medo de uma tal forma que nem precisam mais mostrar uma arma para o motorista — diz o coronel Venâncio Moura, diretor de segurança do SindiCarga e ex-comandante do Bope. — Estivemos com o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, na última quinta-feira, e hoje (ontem), tivemos uma reunião com a Força Nacional, a Polícia Rodoviária Federal, a Polícia Federal e as polícias Militar e Civil. O ministro criou um grupo de trabalho para tentar mitigar o problema. Representantes comerciais de vários estados ameaçam paralisar as entregas aqui. Santa Catarina e Rio Grande do Sul não querem mais mandar carne, por exemplo. Corremos um risco real de colapso no fornecimento.
Ainda segundo Venâncio Moura, a delegacia especializada no combate ao roubo de carga tem apenas 50 homens para todo o estado, e um terço de sua frota foi recolhido.
— Desse jeito vão investigar o quê? — indaga o coronel.
Para Renato Sérgio de Lima, diretor presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a crise da segurança pública é o “calcanhar de aquiles de todos os estados brasileiros”.
— A realidade do Rio sempre foi mais dramática porque sempre foi mais visível. Agora é ainda mais grave por causa da crise econômica, sendo o Rio um dos estados mais afetados. Infelizmente, as saídas apresentadas são sempre populistas, não conseguimos proteger nem a população nem os policiais, e, ao mesmo tempo, criamos bombas-relógio com presídios superlotados — afirma Renato. — A UPP esbarra num problema brasileiro: nossa segurança não passou por reforma que permitisse maior capacidade de enfrentar os crimes. Os estados quebraram, os policiais estão no limite de suas energias e, paradoxalmente, as medidas públicas necessárias não são apresentadas.