Um levantamento indica que mais de 120 PMs, policiais civis e militares das Forças Armadas foram vítimas da violência no estado de janeiro a dezembro. O número é do Observatório da Intervenção Federal, da Universidade Cândido Mendes.
“Ele almejava muito ser um comandante de batalhão, ser um subcomandante. Ele tinha uma pasta de elogios porque prendia mesmo, não tinha medo. Eu tinha muito orgulho da profissão dele”.
O depoimento é da mulher do capitão da PM Diogo Lins, de 34 anos, morto durante um assalto na Zona Norte do Rio, em julho. Ele foi executado com a própria arma, ao ser identificado pelos bandidos como policial militar. Desde o crime, a vida dela e dos filhos ficou mais difícil.
“São pessoas que têm família, que são amadas, que têm filhos. A minha filha, às vezes, pergunta para mim: mãe, eu desejo morrer, para ver meu pai. É muito doído porque ele morreu na semana do dia dos pais”
Diogo é um dos mais de 120 agentes de segurança que morreram vítimas da violência no Rio, em 2018. A CBN teve acesso a um levantamento do Observatório da Intervenção, da Universidade Cândido Mendes, que revela que um policial militar, civil ou homem das Forças Armadas morreu no estado a cada três dias. Setenta e cinco por cento dos agentes estavam de folga, eram reformados ou aposentados. O crime mais comum foi o latrocínio, roubo seguido de morte. Para Pablo Nunes, coordenador de pesquisa do Obsevatório da Intervenção, o resultado revela a falta de preparo dos policiais para agirem em assaltos.
“Normalmente, esses policiais morrem em dinâmicas de latrocínio, com armas pequenas e pistolas. Nós não vimos ação da intervenção em relação a isso. Provavelmente reduziu por causa de imagem e propaganda da intervenção, mas não parece que vai ser um produto sustentável ao longo do tempo”
As mortes de policiais militares engrossam os dados: 95 morreram de janeiro a 26 de dezembro, e apenas 27% estavam em patrulhamento ou operações. Mas o número caiu em relação a 2017, quando mais de 130 PMs foram assassinados no Rio. O porta-voz da corporação, major Ivan Blaz, afirma que os policiais vêm recebendo treinamento, mas ressalta que eles não conseguem enfrentar, sozinhos, o armamento usado pelos criminosos.
“A PM vem investindo em treinamento, capacitação para os seus policiais. Em 2018, foram criados cursos específicos para atuação tática individual durante a folga. Mas não há uma capacidade plena de fazer oposição ao armamento utilizado nas ruas do Rio de Janeiro. Hoje, você observa criminosos fazendo assaltos com fuzis. O poder de fogo dos marginais é muito grande para que um simples chefe de família possa fazer oposição”.
O ano em que o estado recebeu uma intervenção federal na segurança ainda teve a morte de quatro militares após operações do Comando Conjunto em favelas da Zona Norte do Rio.