Em quase 11 meses de comando das Forças Armadas, roubos tiveram redução, mas mortes em ação policial subiram. Intervenção gastou 74% de R$ 1,2 bi e tem até 31 para empenhar restante.
Uma cerimônia realizada nesta quinta-feira (27) encerrou simbolicamente a intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro. Estiveram presentes na cerimônia o governador em exercício, Francisco Dornelles, o interventor, general Braga Netto, e o ministro da Justiça, Torquato Jardim.
Braga Netto afirmou que “atingiu todos os objetivos propostos”.
“Temos a convicção de que trilhamos um caminho difícil e incerto, mas cumprimos a missão”, afirmou o interventor.
Braga Netto e Richard Nunes, secretário de Segurança, receberam a Medalha Tiradentes das mãos de Dornelles e do deputado estadual André Ceciliano, presidente em exercício da Alerj.
Dornelles também avaliou como positiva a intervenção. Segundo o governador em exercício, uma “convulsão social” foi evitada.
“A presença das Forças Armadas não só reduziu os índices de criminalidade, mas também impediu que ocorrências graves aqui acontecessem. O estado do Rio estava à beira de uma convulsão social e só foi evitada pela parceria com o governo federal, materializada pela atuação na área de segurança das forças armadas”, disse Dornelles.
Menos roubos, mais mortes em operação
O regime termina oficialmente na próxima segunda-feira, com 319 dias. O combate ao roubo de cargas foi uma prioridade do novo comando. Comparando os números de março a novembro com o mesmo período do ano passado, houve uma redução de 20%.
Também caíram roubos de rua (6%), a pedestre (7%) e de veículos (8%). Homicídios foram reduzidos em 6%.
Mas houve índices que subiram: lesões corporais seguidas de morte (33%) e mortes por intervenção policial (38%). E mais de 90 policiais militares foram assassinados este ano.
Em setembro, pesquisa Datafolha apontou que que três a cada quatro eleitores fluminenses eram a favor da continuidade da intervenção federal na segurança pública no estado.
R$ 1,2 bi serão gastos
Segundo as Forças Armadas, foram empenhados 74% (R$ 890 milhões) do montante total de R$ 1,2 bilhão destinados à operação.
“Nós esperamos amanhã [sexta] estar com 90% dos recursos empenhados. A nossa expectativa é de restituir cerca de R$ 100 milhões aos cofres federais”.
Até o dia 31 de dezembro, quando oficialmente termina a intervenção, os gestores esperam concluir a compra de mais três helicópteros – dois para a Polícia Civil e um para o Corpo de Bombeiros, entre outros equipamentos.
Segundo o general Laelio Soares de Andrade, secretário de administração do Gabinete de Intervenção Federal, a maior dificuldade para a compra de equipamentos é a especificação dos itens. Um exemplo foi a compra de fuzis para a Polícia Civil, que acabou não acontecendo.
“Tivemos alguns problemas de especificação. A Polícia Cívil queria um grupo de fuzis importados e para a gente assegurar isso, a especificação teria que ser muito detalhada. Por outro lado, com esse nível de detalhamento, nós podemos estar direcionando a compra (o que é ilegal). Então nós não conseguimos chegar em um nível de equilíbrio para essa compra e suspendemos o pregão há duas semanas. Nós precisaríamos de mais tempo para essa compra”, explicou.
“O que nós estamos aplicando aqui equivale a um estádio olímpico. Nós temos hoje R$ 890 milhões aproximadamente empenhados, equivalente a 74% dos recursos. Isso equivale a 5.16 anos de investimento do estado do Rio na segurança pública. Então o pouco que nós estamos deixando de adquirir eles estarão numa situação muito confortável com orçamento do ano que vem para fazer”, completou general Laelio.
Histórico
O decreto que tirou do governador Luiz Fernando Pezão o comando sobre as polícias foi assinado pelo presidente Michel Temer em 16 de fevereiro, dias depois de um carnaval com relatos de arrastões e ataques em blocos.
O próprio Pezão admitiu, dois dias antes do decreto, que o estado não estava preparado. “Houve uma falha nos dois primeiros dias, e depois a gente reforçou aquele policiamento. Mas eu acho que houve um erro nosso”, disse Pezão.
O estado estava mergulhado não apenas numa onda de insegurança, mas também numa crise financeira, refletida no regime de recuperação fiscal, ao qual o RJ aderira em setembro de 2017.
Com a intervenção, o cargo de comando foi dado ao general Walter Braga Netto. Os militares já estavam no Rio desde 2017, em ações pontuais e em articulação com o governo estadual. De fevereiro para cá, todas as decisões sobre a segurança do Rio passaram a ser tomadas pelo interventor.
“A intervenção chegou num momento de muita crise no Rio de Janeiro. A ideia de que chegavam as Forças Armadas para ajudar foi muito bem recebida por uma grande parte da população”, diz Silvia Ramos, socióloga e coordenadora do observatório da intervenção federal.
“O problema é que depois o que aconteceu não foi um alívio, mas um aprofundamento de aspectos da política se segurança muito problemáticos para o Rio, que são grandes operações, tiroteios e pouca inteligência”, pontua.