Em encontro ocorrido no dia 1º de julho de 2019, no salão nobre do IFCS/UFRJ, foi criada a Rede Fluminense de Pesquisas sobre Violência, Segurança Pública e Direitos Humanos, com a participação de mais de 120 pesquisadores e ativistas de diversas instituições.
O encontro não reuniu apenas acadêmicos, mas também responsáveis por pesquisas em instituições governamentais, como o Ministério Público e a Defensoria Pública do Estado Rio de Janeiro. Contou ainda com a presença de integrantes de diversas organizações da sociedade civil e com lideranças, comunicadores e estudantes de favelas do Rio.
Noventa pessoas assinaram a ata da reunião, subscrevendo a carta aberta lida no início do encontro pelo pesquisador Daniel Hirata, do NECVU. Veja aqui o texto completo do manifesto. E abaixo, algumas falas de participantes do evento:
- “Nosso estado está entregue a um governador que tem assumido posições criminosas e deveria ser por isso responsabilizado nos tribunais nacionais e internacionais”, disse Luiz Eduardo Soares, lembrando que, nos primeiros cinco meses deste ano, 729 pessoas morreram em decorrência de ações policiais.
- “É hora de vincularmos mais claramente os nossos estudos a alternativas de políticas capazes de preservar a democracia e os direitos que nós conquistamos desde 1981” (Michel Misse, coordenador do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana da UFRJ).
- “Neste momento de radicalização de narrativas e práticas violentas, este é um campo que precisa se articular mais. O que faltava à gente era um trabalho em rede. Sem abrir mão das diferenças, chegou o momento de brigar nessa coalizão para que a gente saia dessa situação triste em que chegamos” (Daniel Cerqueira, do IPEA).
- “Encaro a rede como uma inovação necessária. Estamos em um momento de um recuo perigoso, que faz com que a sociedade opere com fatalismo. Vejo com muita esperança o apoio da rede” (Marcelo Burgos, da PUC-RJ).
- “Ao olhar essa sala, vemos poucos negros e favelados presentes no campo da pesquisa. Isso é um desafio que temos de enfrentar na produção do debate de segurança pública” (Fransérgio Goulart, do Fórum Grita Baixada).
- “Está na hora de retornamos à militância. A militância acadêmica, a militância que tem um lado, sim, que é o lado da dignidade, dos direitos civis e da cidadania. É desse lado que podemos vencer esse discurso que fabrica medo para vender proteção, esse discurso que produz regimes do medo e práticas de exceção, esse discurso fácil que governa com o crime e produz trajetórias eleitorais. Temos acervo, temos competências, temos capacidade” (Jacqueline Muniz).
- “Criem o desconforto institucional. A gente precisa se sentir desconfortável. Demandem. Tendo dados, tenham pesquisas, tragam. Isso vai gerar um protocolo e obrigatoriamente terá de levar a alguma decisão” (Andrea Amin, do Ministério Público do Rio de Janeiro).
- “Peço que essa rede também esteja atenta a construir a disputa no parlamento contra propostas que ameacem direitos civis” (Marcele Decothé, estudante do IFCS).
- “Não dá pra gente pensar em política pública sem conversar com os dois lados. Não acredito em nenhuma mudança sem conversar com a gente, que não vai dar certo. E a UPP é a prova disso” (MC Martina, do projeto Movimentos e do Slam Lage).
Veja aqui a notícia do evento publicada no site da Rede de Observatórios da Intervenção.