Este ensaio tem como objetivo refletir sobre algumas das formas pelas quais as tecnologias de vigilância, a pretexto de segurança, se politizaram a partir de um preconceito de raça e gênero, em decorrência de um processo histórico denominado cis-colonialidade. A urgência desse conceito analítico fundamenta-se na necessidade de mostrar como essas tecnologias não são neutras e reiteram padrões discriminatórios com pessoas trans e racializadas, também sob o argumento de “eficiência na segurança”. Assim, ao invés de produzir alternativas para a democratização de cidades inteligentes e conectadas, esses dispositivos operam por meio do conceito de classificação de risco, por meio da extração de dados e da alienação dos corpos negros, pobres e transexuais, ampliando e reinstaurando os limites da marginalidade, nos corpos e nos territórios. Essas tecnopolíticas se colocam como validadoras da dignidade humana, automatizam a experiência, pré-determinam e padronizam os gêneros e configuram um pretexto para o surgimento de movimentos de morte, em cidades hipervigilizadas, que acabam tornando a vida um ritual de imagens em que a militarização de o espaço urbano e a própria dinâmica do capitalismo contemporâneo recebem um enfoque particular amplificado.
AUTORA
Mariah Rafaela Silva
Como citar
SILVA, Mariah Rafaela. Orbitando telas: Tecnopolíticas de segurança, o paradigma smart e o vigilantismo de gênero em tempos de acumulação de dados. Sur - Revista Internacional de Direitos Humanos, n. 31, jan.2022.