Dos sete crimes pesquisados, seis tiveram aumento em Niterói de 2000 a 2005
Dos sete crimes analisados na pesquisa feita pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec), da Universidade Candido Mendes, com base em dados da Secretaria de Segurança, seis registraram aumento no ano passado em relação a 2000 em Niterói. O número de assaltos a transeuntes (que incluem os ataques a pedestres e a motoristas, quando o veículo não é levado pelos bandidos) foi o que mais subiu: 79%. Em seguida, o assalto a residência cresceu 50,8% nos últimos seis anos. A única queda foi a do número de roubos de celulares, com 630 casos registrados em 2000 e 455 em 2005.
Quem conhece a região sabe: caminhar pelo Centro de Niterói exige cautela. A Avenida Amaral Peixoto e suas transversais são famosas pelos assaltos a pedestres. Em Icaraí, nos sinais das ruas transversais à Avenida Roberto Silveira, as vítimas são os motoristas. Há duas semanas, a estudante Roberta Souza Brito, de 22 anos, teve o relógio roubado no sinal da Rua Álvares de Azevedo com Roberto Silveira:
– Um rapaz a pé me surpreendeu quando estava parada no sinal. Ele foi muito rápido. Não deu nem para pedir socorro.
Em Icaraí, pedestres também correm risco em algumas esquinas da Rua Coronel Moreira César. Na semana passada, um grupo de cinco menores de rua foi detido por um segurança particular quando tentava assaltar uma senhora na esquina com a Rua Otávio Carneiro.
O comércio também é alvo de assaltos constantes em Niterói. No cruzamento da Rua Dr. Celestino com Avenida Marquês de Paraná, um bar, uma padaria, uma casa lotérica, uma farmácia, um mercado e uma banca de jornais já foram assaltados, alguns mais de uma vez. O mercado foi atacado seis vezes em três anos.
– Agora contratamos segurança particular – disse o dono do mercado.
No mesmo lugar, motoristas e principalmente motociclistas costumam ser assaltados em plena luz do dia. Já na região do Fonseca, bandidos fecham ruas para roubar carros, causando um clima de insegurança que leva o comércio da Alameda São Boaventura a fechar as portas ao anoitecer. Moradores contam que tem aumentado o roubo de motos na área.
– Ninguém aqui anda mais com moto nova. Até motos velhas estão roubando – contou um morador do bairro.
Na Região Oceânica de Niterói, o comércio também tem sido alvo de ladrões. Uma das vítimas foi o comerciante Helder Sérgio Santiago, de 67 anos, dono do Bar, Mercearia e Bazar Quitério. Depois de sofrer cinco assaltos (dois em 2004 e três em 2005), ele decidiu fechar as portas do estabelecimento com o qual manteve sua família desde 1983, no bairro Soter, na Avenida Central, um dos mais visados pelos bandidos. Diante da placa de “aluga-se” no imóvel, Helder desabafou:
– Resolvi fechar o bar. O negócio já estava ruim. Com os assaltos, ficou pior. Todo o comércio da região pode seguir o mesmo caminho se alguma atitude séria não for tomada.
Dono de um bar ao lado, Rui Santiago, de 40 anos, filho de Helder, manterá o negócio:
– Sempre que assaltaram a loja dele, assaltaram aqui também. Tenho este comércio há 20 anos. Enquanto der, vamos levando.
Itacoatiara, apesar do posto de policiamento comunitário instalado no único acesso, não escapa da ação de criminosos. Há cerca de um mês, dois bandidos invadiram uma casa de luxo na Rua das Papoulas, fazendo três pessoas reféns. Todas foram amordaçadas e trancadas num quarto. Os ladrões, depois de apanharem jóias e dinheiro, levaram os reféns para a casa da filha da proprietária, nos fundos, e vasculharam também o imóvel, roubando vários objetos de valor.
Francisco Duarte, de 49 anos, contou que todos os seis quiosques da orla da Praia de Itacoatiara já foram assaltados várias vezes.
– Sempre que chega o verão, os luaus começam na praia. E os assaltos também – disse Francisco, que é dono de quiosque e já foi assaltado dez vezes.
Camboinhas, assim como Itacoatiara, conta com um posto policial, mas também sofre com assaltos a residências. Somente em abril, quatro casas foram invadidas. A quadrilha, que dopava cães das casas, foi desmantelada com a prisão de dois ladrões.
Em Piratininga, um dos problemas é a onda de assaltos a quiosques na orla. Jorge Ximenes, presidente da associação de quiosqueiros do bairro, disse que os 20 quiosques fecham ao anoitecer porque os comerciantes têm medo.
– Do ano passado para cá, fui assaltado três vezes – informou.
Crescimento também em São Gonçalo e Maricá
O crescimento dos crimes não ficou restrito a Niterói, registrando-se também em São Gonçalo e Maricá. O assalto a transeuntes cresceu 126,8%, seguido do assalto a residência (67,2%). Segundo a economista e antropóloga Leonarda Musumeci, coordenadora da pesquisa, o furto de veículos teve aumento significativo, de 42%. O número de registros de roubo de celulares caiu.
– Para detectarmos a tendência de aumento de um crime, é preciso acompanhar a variação do número de casos registrados nos seis anos. Por isso, apesar de a ocorrência de homicídios dolosos, roubos de veículos e assaltos em ônibus também ser maior em 2005 do que em 2000, consideramos o crescimento desses crimes estável na área que inclui São Gonçalo e Maricá – disse.
Anteontem, um contador, que preferiu não se identificar, viu um assalto na Rua Ricardo Campelo, no Camarão, em São Gonçalo. Ele também já foi abordado por criminosos:
– É uma total insegurança. Eu me senti humilhado, constrangido. Sofri um seqüestro relâmpago, fiquei três horas preso, sendo ameaçado – disse.
Segundo Fabiano Filho, vice-presidente da Associação Comercial de São Gonçalo, o Centro e Alcântara também têm muitos assaltos a transeunte:
– No início do Viaduto de Alcântara, há muitos assaltos e já houve até assassinatos.