Abordada por um homem armado enquanto caminhava em Campo Grande em março, a estudante Elisa Correa engrossa as estatísticas de roubo a pedestres no Rio. Em todo o estado foram 10.267 casos nos três primeiros meses de 2006, aumento de 31% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP). Nas três áreas de segurança integrada (Aisps) que abrangem a Zona Oeste, o aumento é mais impressionante: 1.006 casos em janeiro, fevereiro e março, crescimento de 51% em comparação a 2005. Os roubos a transeuntes computados no primeiro trimestre de 2006 já correspondem a quase um terço dos 3.405 registrados em todo o ano passado. É o tipo de crime que mais cresceu, ao lado do roubo de carro.
A estudante percorria a pé o trajeto entre a estação de trem de Campo Grande e a lona cultural do bairro, onde assistiria a uma peça, por volta das 19h, quando foi abordada por um homem armado, de bicicleta.
— Ele me pediu a bolsa e eu argumentei que tinha pouco dinheiro. Fiquei sem o celular e todos os documentos. Só depois lembrei que, pouco antes de ele chegar, estava falando no celular. Acho que foi isso que chamou a atenção do assaltante — conta Elisa.
O incidente mudou os hábitos da estudante, que não passa mais sozinha pela Rua Campo Grande à noite. Mas, de forma geral, ela não considera o bairro perigoso.
— Quando fui à delegacia, o policial me disse que aquele era um local de muitos assaltos. Foi no exato trecho de aproximadamente 50 metros onde não havia iluminação. Não acho que o bairro seja muito perigoso. Nesse caso, por exemplo, se houvesse mais lâmpadas na rua, talvez o assalto não tivesse acontecido — opina.
Segundo pesquisa do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec), baseada nos dados do ISP, o aumento do índice de roubo a transeuntes não é exatamente uma notícia recente. A modalidade é a que mais cresceu na Zona Oeste entre os anos 2000 e 2005, com 89% de aumento. Segundo o delegado Reginaldo Silva, titular da 35 DP (Campo Grande), ainda não há previsão de qualquer ação para minimizar a incidência destes crimes. A delegacia é a que registrou o maior número de casos este ano na região.
— A chefia da Polícia Civil tem feito reuniões quinzenais com os delegados e está traçando diretrizes para empregar o efetivo no combate a essas ações criminosas. Vamos adotar as medidas necessárias em breve — afirmou.
A gente anda apavorada ali naquele trecho
O roubo de veículos, cujo índice permaneceu estável de 2000 a 2004, teve um crescimento de 20,4% na comparação entre os primeiros trimestres de 2006 e 2005.
Uma professora de Campo Grande, que preferiu não se identificar, teve o carro roubado em janeiro, na Avenida Santa Cruz, em frente à Escola Técnica do Rio de Janeiro (Eterj). Ela voltava da casa da mãe, em Santíssimo, e foi abordada por dois homens armados.
— Antes, ia na casa da minha mãe várias vezes na semana. Agora, só vou aos domingos e volto antes do anoitecer. A gente anda apavorada ali naquele trecho. Nas proximidades ainda tem uma pracinha onde os assaltantes deixam os carros roubados depois de usarem. Todo mundo sabe disso. Não sei por que o policiamento não chega lá — conta.
O trecho em frente à Eterj é citado por diversos moradores como local de constantes assaltos. Fábio Souza, que trabalha em um armazém na Avenida Santa Cruz, confirma:
— Toda noite tem assalto naquele sinal. Fica exatamente na entrada de uma favela. Os bandidos se escondem e só aguardam os carros pararem para abordá-los.
Segundo o Sargento César, do setor de ordens de policiamento do 14 BPM (Bangu), a ronda na via é feita diariamente. Uma funcionária da padaria que funciona em frente à escola, no entanto, diz que o policiamento é precário:
— Tem muito roubo aqui: é todo dia e toda hora. Já virou um ponto certo. Por isso, quase ninguém pára no sinal, o que é ruim, por causa da movimentação de crianças. É difícil ver polícia aqui, só depois de um dia muito brabo.
Um dos casos terminou em tragédia no último dia 3 de maio, em Campo Grande. A professora Maria de Jesus Pinto foi assassinada após uma tentativa de roubo de carro em frente à sua casa, na Rua Manoel Caldeira de Alvarenga. Os alunos da Fundação Educacional Unificada Campograndense, onde ela lecionava, fizeram passeata no dia 10.
— A rua já era local constante de furtos. Cerca de 20 dias antes, um morador já havia sido assassinado numa outra tentativa de assalto — disse o filho da professora, que não quis se identificar.
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