A cúpula da Segurança do Rio atribuiu a guerra de quadrilhas de sábado a um ato desesperado do tráfico, enfraquecido pela política de ocupação de favelas. Para a socióloga Julita Lemgruber, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, foi mais um capítulo da disputa de grupos criminosos que o atual governo ainda não conseguiu alterar.
A invasão mostra o tráfico acuado por estar perdendo poder financeiro ou tão forte quanto sempre esteve nos últimos anos?
Pontualmente há alguns espaços em que o tráfico foi expulso, mas isso é uma gota dágua num oceano de territórios dominados por armas, controlados pelo tráfico ou pelas milícias. As iniciativas dessas unidades pacificadoras devem ser aplaudidas, mas ainda são muito pontuais e limitadas. É evidente que o tráfico no Rio, por enquanto, sofreu muito pouco com essa nova política. O que estamos vendo hoje é uma disputa diária, não só entre traficantes, mas também envolvendo as milícias. Por enquanto, é muito difícil o governo cantar vitória. Estamos muito longe de dizer que o tráfico está acuado. Ele vem sentindo algumas investidas bem-sucedidas, mas ainda são pontuais e o problema é muito grande.
A polícia tem mecanismos de inteligência para evitar os conflitos?
O próprio secretário disse que tinham a informação de que esse confronto aconteceria e que não conseguiram evitar porque a favela tem inúmeras entradas. Ao que parece, a informação da polícia não tinha essa qualidade que talvez fosse preciso para que pudesse se posicionar em pontos estratégicos e evitar a invasão.
A queda do helicóptero influenciará na reação policial e no moral dos traficantes?
O tráfico certamente está achando que derrubou a polícia, não só o helicóptero. A polícia, desafiada como foi, tem que responder rapidamente, mas prendendo essas pessoas e trazendo diante da Justiça. Retaliação não leva a lugar nenhum, como aconteceu em São Paulo após aqueles ataques do PCC. Não vai trazer tranquilidade.
A sede da Olimpíada de 2016 deixou o Rio em evidência internacional. Acha que isso pode influenciar para que uma saída para a segurança seja encontrada?
Espero que a escolha do Rio seja um divisor de águas de fato, signifique que as autoridades estaduais e federais darão a prioridade a essa questão que nunca deram antes.