RIO – Na opinião de especialistas em segurança pública ouvidos pelo GLOBO, o pagamento de propinas a policiais da UPP para facilitar a ação de traficantes de drogas nos morros da Coroa, Fallet e Fogueteiro, em Santa Teresa, não significa um retrocesso no processo de consolidação das Unidades de Polícia Pacificadora no Rio. Para a coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, Julita Lemgruber, episódios como esse servem apenas para confirmar que “o caminho a ser percorrido é longo”.
— Esse momento serve de reflexão para a sociedade. Justamente para que essa experiência das UPPs, que é positiva, não fracasse. Você não transforma uma polícia como a do Rio, com um histórico de violência e corrupção, da noite para o dia. É ingenuidade achar isso como também julgar que com algumas UPPs o problema de violência no Rio seria resolvido absolutamente — aponta.
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De acordo com o vice-coordenador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Ignácio Cano, existe na sociedade carioca uma expectativa irreal em relação às UPPs:
— Qualquer problema não pode ser encarado como fracasso. Os policiais novos são supostamente menos corruptos. Só que corrupção zero é irreal. É preciso lidar com a corrupção, expulsar esses caras e criar mecanismos de fiscalização. Mas a prioridade da UPP deve ser o fim da violência. Após a implementação das UPPs a violência não foi zero, mas diminuiu muito. Ainda existem casos de abusos. Acabar com a corrupção a curto prazo é algo irreal. Essa é uma questão mais difícil de ser combatida do que a violência.
Especialista em Segurança Pública e Mortes Violentas, o sociólogo Gláucio Soares afirma que o maior mérito das UPPs foi a queda da taxa de homicídios. E destaca que é importante questionar se esse tipo de corrupção é mesmo recente.
— Isso acontecia com mais frequência antes. Houve até uma recuperação dos padrões morais na polícia.