RIO – Conquistar meninas, ter poder na comunidade e ostentar armas. Reportagem de Cláudio Motta publicada na edição deste domingo do Globo mostra que depois de sete meses de entrevistas, pesquisadores constataram que o maior fator de atração dos jovens para o crime é o reconhecimento social. A conclusão é da pesquisa inédita “Meninos do Rio: jovens, violência armada e polícia nas favelas cariocas”, promovida pelo Unicef e coordenada pela cientista social Sílvia Ramos, do Centro de Estudos de Criminalidade e Cidadania (Cesec), da Universidade Candido Mendes. O trabalho será lançado no próximo dia 21, com o objetivo de explicar as razões pelas quais os jovens entram no crime, além dos motivos alegados para sair da criminalidade. ( Vídeo: “Fazer parte da sociedade é emocionante, diz jovem” )
De acordo com a pesquisadora, mitos sobre as razões do envolvimento de rapazes com traficantes estão caindo. Roubar para comprar um tênis, porque a família é desestruturada ou para compensar sua pobreza não foram os principais motivos apontados. Além disso, os entrevistados revelaram que os rendimentos do tráfico vêm caindo. Muitas vezes, um traficante fica uma semana sem receber. Quando há o boato de que uma Unidade de Polícia Pacificadora será implantada na favela, tende a aumentar a procura de emprego pelos jovens.
– Por que entram para um negócio tão ruim, que maltrata tanto, é tão perigoso? Porque ainda há um apelo simbólico. As meninas reconhecem os bandidos, têm essa questão da sexualidade, que foi um tema não previsto, mas que se impôs à pesquisa – diz Sílvia Ramos.
Outro fator importante para atrair jovens de comunidades para a ilegalidade, de acordo com a pesquisa, é a proximidade com os bandidos que controlam os locais onde eles crescem. O gestor de programas do Unicef no Rio, Jacques Schwarzstein, salienta que a pesquisa revela a importância de uma abordagem individual do problema e de se evitar estereótipos:
– As razões ditas são sempre socioeconômicas: o jovem entra no tráfico para comprar um tênis. Essa explicação é simplória. Evidentemente, o tênis é um objeto de desejo, mas, para um adolescente optar pelo tráfico, há um conjunto de fatores certamente muito mais complexos do que o tênis na vitrine.
Foram entrevistadas formalmente 104 pessoas. Além disso, uma pesquisa quantitativa foi realizada com a participação de 14 jovens, que entrevistaram 241 rapazes e moças de 14 a 29 anos no Complexo do Alemão e na Zona Oeste. Para Sílvia Ramos, é necessário complementar o trabalho, fazendo uma abordagem semelhante, mas focada em jovens de classe média.