A pesquisadora Silvia Ramos, do Cesec (Centro de Estudos de Cidadania e Segurança), da Universidade Candido Mendes, manifesta bastante preocupação com o tom de confronto entre o governo do estado e setores do movimento de direitos humanos. Ela vê lamentáveis sinais de interrupção do diálogo entre a área de segurança e os pesquisadores representados por ONGs que fizeram um manifesto de repúdio à operação policial da Favela da Coréia (ver aqui a íntegra do documento). Nessa operação dez supostos traficantes foram mortos, muita arma pesada apreendida, mas um menino de 4 anos, Kauã, e um policial civil foram mortos no tiroteio.
O Cesec não assinou o manifesto por considerar que sua missão principal não é a defesa de direitos humanos, mas sim estudos de segurança e criminalidade, visando à modernização e à democratização da segurança pública.
Silvia Ramos disse que a letalidade policial nesse governo é preocupante, sim. Dados do próprio Instituto de Segurança Pública (ISP) dão conta de que, entre janeiro e junho, houve aumento de 33,5% no número de autos de resistência, quando há mortes em confronto com a polícia. Mas ela observa que é preciso que as ONGs apresentem alternativas no combate à criminalidade. Segundo Silvia, apesar da política de confronto, a cúpula da segurança tem dado demonstrações de estar aberto ao diálogo.
– Só fico preocupada em ver as autoridades dizendo que vão responder com fogo porque vai parecer a quem estar na ponta que é legítimo matar bandido. Essa política poderá encalacrar a polícia num aumento cada vez maior dos homicídios, sem solução – observa Silvia.
A política de confronto, na minha modesta opinião, entra num círculo vicioso. Os bandidos acreditarão cada vez menos que sairão vivos se entregarem as armas e se render. Vão reagir com mais violência ainda. E os policiais vão responder com mais tiros. A população inocente vai ficar entre a cruz e a espada. Hoje houve o caso de mais uma criança baleada, dessa vez no Jacarezinho.
O governo do estado está sintonizado com parcela da população – de várias classes sociais e não apenas das médias, como se pensa – que pede a lei de talião (olho por olho, dente por dente). Mas esse desejo de matar não pode de forma alguma ser o orientador da política de segurança do estado. Ele desejo de matar tem que ser limitado pelas leis.
Embora as ONGs tenham feito críticas sem apresentar propostas concretas, de médio prazo, para se enfrentar a questão, também acho que o governo do estado não pode polarizar a discussão. O governador Sérgio Cabral deve, a meu ver, agir mais como árbitro dessa questão, do que fazer discursos marcados por sarcasmo, como o que disse que não é possível fazer “seminário com bandidos”, reagindo a críticas da OAB e das entidades de defesa dos direitos humanos. (veja o que o governador disse aqui no Globo Online). Seminário com bandido já é feito, sim, governador, por uma parte da polícia e resulta sempre em mais armas, drogas e proteção para os criminosos. Se essas relações entre policiais e bandidos forem coibidas de verdade, a segurança terá dado um grande passo em direção à redução dos conflitos nas favelas.