Metade dos policiais de UPP se acha mal preparada

Enviado por Jorge Antonio Barros – 12.07.2012 | 18h38m

PESQUISA

Os policiais militares lotados em Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) se consideram mais bem preparados para atirar do que para fazer policiamento comunitário, que em tese é a principal atribuição deles. Eles afirmam ter consciência de que a mediação de conflito entre moradores é uma missão da UPP (93,8%, o maior índice), mas 79,4% deles afirmam que a atividade realizada com maior frequência pelos policiais de UPP é a abordagem e revista de suspeitos, assim como atua a polícia que não está nas favelas pacificadas. Entre 2010 e este ano, caiu de 63,1% para 49,1% a avaliação daqueles policiais sobre acham que foram mal treinados para trabalhar adequadamente nesse tipo de serviço — ou seja a cada dez, cinco policiais de UPP criticam a própria formação para o trabalho, recebida da PM. Sobre as condições de trabalho houve melhora em alguns itens, como as instalações da sede, sanitários e escalas de trabalho, e piora em outros, como pontualidade na gratificação e auxílios para transporte e alimentação. Apesar disso, houve ligeiro aumento no nível de satisfação dos policiais — de 41% em 2010 para 46% na pesquisa atual. A maioria desses policiais considera importante continuar portando fuzil (92%), arma que não combina com policiamento comunitário.

Esses são alguns dos resultados de uma nova pesquisa sobre o que pensam os policiais de UPP, feita pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CeSec), com apoio da Fundação Ford e apoio operacional da Secretaria de Segurança e da PM. A primeira pesquisa, feita em 2010, abordou apenas nove UPPs e agora mais 12. Na amostragem foram ouvidos 865 policiais — 94,8% são soldados e 5,2% cabos. Existe um total de 24 Unidades de Polícia Pacificadora com cerca de cinco mil policiais militares.

– As UPPs não são algo definitivo e acabado . Estão sujeitas a mudanças e correções de rota. Os resultados da pesquisa, portanto, não são um retrato estático, mas buscam justamente captar a evolução desse processo. O sucesso das UPPs depende particularmente dos policiais ali lotados. Daí a importância de conhecer suas percepções e avaliações e sobre o próprio trabalho que realizam — afirma Julita Lemgruber, diretor do CesEc, e uma das coordenadoras da pesquisa, assim como as pesquisadoras Bárbara Soares e Leonarda Musumeci.

A pesquisa deste ano contou com o trabalho de 19 pesquisadores em campo. Foi um trabalho de profundidade que contou também com a colaboração dos próprios policiais que responderam com a garantia do anonimato e foram escolhidos por sorteio a partir de lista enviada pelo comando de suas unidades. Eles se dividem na percepção que têm dos moradores em relação ao trabalho feito pela UPP — 46% acham que a maioria dos moradores tem sentimentos negativos (como medo, desconfiança ou raiva) e 44% consideram que a população local tem sentimentos positivos (simpatia, admiração, aceitação), enquanto que 10,3% acham que a indiferença é o sentimento predominante. A percepção de sentimentos positivos era maior na pesquisa anterior — 66,5% — enquanto que a de negativos era menor (28,5%).

Sem esse objetivo, a pesquisa comprova que o policiamento comunitário ainda não é totalmente explorado pelas UPPS. A maioria dos policiais diz que realiza com frequência abordagem e revista de suspeitos e recebe queixas da população (52,9%). Apenas 37,4% deles afirmam reunir-se frequentemente com os superiores e só 5% dizem reunir-se com frequência com moradores. São poucos também os que mantêm contato com instituições da comunidade, como associações de moradores, igrejas e ONGs, entre outras. Parecem confirmar o mito de “Tropa de Elite”, de que PM detesta ONG.

Na avaliação da formação, os policiais consideram que agora estão mais bem preparados para atirar (passou de 52,5% para 64,9%), enquanto que para o policiamento comunitário caiu a percepção, de 81,5% para 64,2% — uma queda de 21%. Para eles, o preparo para a mediação de conflitos entre os moradores cresceu de 45,8% para 50,1%. No quesito armamento menos letal, que costuma ser útil no policiamento comunitário, caiu de 37,7% para 33,6%.

No patrulhamento da área, aumentou a movimentação dos policiais — a ronda a pé na comunidade subiu de 29,8% para 37,6% na resposta da atividade que realizam na maior parte do tempo. Abordagem e revistas de suspeitos (74,5%) e registro de ocorrências em delegacias (49,3%) são outras atividades que tomam o tempo dos policiais lotados em UPPs.

Apenas dois itens relativos a condições de trabalho listados no questionário foram avaliados como bons pela maioria dos policiais: relacionamento com os policiais dos batalhões (64%) e escala de trabalho (52%).

A pesquisa descobriu que caiu de 69% para 59% o percentual de PMs que não gostariam de trabalhar em UPP. Ou seja: a maioria ainda está ali contrariada. Do total de ouvidos, 33,2% estão parcial ou totalmente identificados com o projeto de pacificação,enquanto que 51,3% são neutros e 15,5% são parcial ou totalmente resistentes.

O perfil dos policiais lotados em UPPs é basicamente o seguinte:

– Mulheres são 11%, mais do que o índice verificado na tropa da PM, que é de 7%.

– Faixa etária: de 25 a 33 anos

– Escolaridade: 52% têm ensino médio completo e 28,9% superior incompleto

– Renda pessoal: 63% têm de 3 a 5 salários mínimos

– Renda familiar: 52%, de 5 a 10 salários mínimos

– Tempo na PM: 47,2% têm de dois a cinco anos

– Tempo de formação: 83%, de 7 a 9 meses

– Casados: 52%

– Têm pelo menos um filho: 48.3%

http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/posts/2012/07/12/metade-dos-policiais-de-upp-se-acha-mal-preparada-455153.asp

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