Os atentados no Rio de Janeiro mostram que os governantes não aprenderam a lição, afirmam especialistas ouvidos ontem pela Folha. Na comparação com as ondas de violência ocorridas no Estado de São Paulo, entre maio e agosto deste ano, sustentam que os erros se repetiram, entre eles o de saber antecipadamente dos atentados e não tentar prevenir.
“Os governos não aprenderam a lição. Como ocorreu em São Paulo, o governo do Rio soube antecipadamente, mas não fez nada para prevenir. Não há um plano estratégico, as coisas são sempre no supetão”, afirmou a antropóloga Alba Zaluar, do Núcleo de Pesquisas das Violências do Instituto de Medicina Social da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
Ela disse não entender por que o governo fluminense não desencadeou uma grande operação quando recebeu as primeiras informações sobre os ataques.
“Por que não se fez nada para prevenir os atentados? Se o que está ocorrendo é um jogo de poder, de intimidação, por que não reforçar o policiamento ostensivo para demonstrar força?”, questionou.
Alba salientou que nem a experiência anterior dos atentados promovidos pela facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) em São Paulo fez com que os Estados e o governo federal elaborassem um plano estratégico de segurança para enfrentar situações como essa.
“Parece que os traficantes do Rio estão comprando as estratégias dos criminosos paulistas. Só que os Estados não aprenderam com a experiência anterior”, disse a antropóloga.
“O que adianta ter órgãos de inteligência da polícia, se nada é feito para impedir os atentados?”, questionou Alba.
Vulneráveis
Para o sociólogo Luiz Eduardo Soares, ex-secretário nacional de Segurança Pública, os atentados ocorridos do Rio mostram que os Estados continuam extremamente vulneráveis mesmo depois dos episódios ocorridos em São Paulo meses antes.
“Só discutimos segurança pública nas catástrofes. E, nas catástrofes, todo mundo quer soluções emergenciais”, afirmou Soares.
Segundo ele, não há solução a curto prazo contra o crime organizado. “Ou fazemos uma reforma com profundidade ou continuaremos apenas chorando os nossos mortos.”
De acordo com o ex-secretário, os núcleos de poder do crime continuam intocáveis. “As relações promíscuas com a polícia continuam aí. Isso não é um problema que se resolve de um dia para outro”, afirmou.
Para Soares, a tese de que os traficantes estariam reagindo à ação das milícias formadas por policiais e ex-policiais parece a mais provável para explicar os atentados.
A socióloga Julita Lemgruber, que já dirigiu o sistema penitenciário do Rio de Janeiro de 1991 a 1994, afirma que houve precipitação de membros do governo fluminense em já apontar os autores e a causa dos atentados.
“É leviano afirmar agora quem são os responsáveis e os motivos. Foi um recado para o governo, mas ainda é preciso entender que recado é esse”, disse Julita, que também foi ouvidora da polícia fluminense.
Ela defende que a saída para a segurança está na interação entre os governos. “E só uma ação muito coordenada de diversas áreas do Estado e do governo federal poderá dar a resposta”, disse.