Em pesquisa, PMs de UPPs reclamam de treinamento

Policiais lotados em favelas dizem não ter recebido formação adequada para o posto

RIO — Uma pesquisa divulgada nesta semana pela Universidade Candido Mendes mostra que mais da metade (51,7%) dos policiais militares lotados em Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) acredita que não recebeu a formação adequada para o posto. O levantamento, feito por uma equipe do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec) da instituição, também revela que 42,4% dos policiais afirmaram que se sentem “inseguros ou muito inseguros” nas favelas, e 35,9% têm visão negativa sobre as UPPs. Segundo as coordenadoras do trabalho, o modelo de polícia de proximidade está “fragilizado”.

FALTAM ATIVIDADES PRÁTICAS

Para o estudo, realizado entre julho e novembro do ano passado, foram ouvidos 2.002 soldados e cabos de 36 UPPs. Em uma consulta anterior, em 2010, o percentual de PMs que achavam que não foram preparados adequadamente para trabalhar em uma comunidade era menor: 36,9%. Entre os que reclamavam da formação, 51,9% criticavam a falta de atividades práticas e de conhecimento das favelas. Para a antropóloga Leonarda Musumeci, que coordenou a pesquisa com a cientista social Silvia Ramos e a socióloga Barbara Musumeci, a velocidade com que as UPPs foram implantadas ajuda a explicar os números:

— A própria coordenação (das UPPs) reconheceu que o ritmo de implantação atropelou alguns processos.

Outra informação que chama a atenção na pesquisa mais recente é sobre a relação dos PMs com a comunidade. Para 60,1% dos entrevistados, os moradores têm sentimentos negativos em relação a eles. Em 2010, o índice era 28,5%.

— No Alemão, alguns moradores cuspiam no chão quando a gente passava. Já fui xingado por uma senhora ao ajudar o filho dela a se levantar — conta um PM de UPP, que pediu anonimato.

Silvia Ramos defende uma formação específica, dentro da PM, voltada para a polícia de proximidade:

— Há mais PMs em atividades operacionais e menos nas funções de proximidade (comparado com anos anteriores). Há um processo de fragilização da proximidade. O pior da polícia convencional (dos batalhões) foi para as UPPs.

O percentual de policiais que ficam em pontos fixos passou de 37,6% em 2010 para 18,9% em 2014. O índice daqueles que fazem rondas a pé caiu de 29,8% para 23,7%. Enquanto isso, o índice de PMs em grupos táticos e operacionais passou de 7,2% para 22,2% no mesmo período. Subsecretário de Educação, Valorização e Prevenção da Secretaria de Segurança, Pehkx Jones relaciona o crescimento da “atividade criminosa” em comunidades com UPPs ao aumento dos grupos táticos.

— A PM trabalha com dados de inteligência e investigação. Mas acho que em 2015 esse número vai cair.

Em relação à formação, Jones afirma que o novo currículo da PM, no ano que vem, terá a disciplina de polícia de proximidade, que englobará o conteúdo da disciplina anterior, polícia comunitária, e oferecerá também estudos de caso. O subsecretário diz que o novo curso terá duração de dez meses, com mais dois de estágio, em vez de sete meses de aulas.

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