O artigo analisa resultados da 3ª rodada do survey “UPP: O que pensam os policiais”, realizado em 2014, que entrevistou 2.002 cabos e soldados das 36 unidades então existentes na cidade do Rio de Janeiro. Em comparação com os de 2010 e 2012, tais resultados mostram a persistência de problemas relativos à formação, às condições de trabalho e à vontade da maioria dos agentes de deixar o programa. Mas revelam sobretudo um avanço das práticas de policiamento convencional e repressivo, em detrimento daquelas associadas à polícia de proximidade, com um crescente protagonismo dos GTPPs, grupamentos calcados no modelo do Bope e das tropas de elite dos batalhões. Apontam também sinais de forte deterioração das relações entre policiais e moradores, assim como um aumento das percepções de presença do tráfico de drogas e do porte ilegal de armas nas UPPs. Em diálogo com algumas pesquisas etnográficas recentes sobre favelas ocupadas, o trabalho relaciona a crise por que passam essas unidades a tropeços, lacunas e desvios de rota do próprio programa, não simplesmente a um “retorno” do tráfico, que estaria desafiando a chamada “pacificação”.
AUTORA
Leonarda Musumeci
Ano
2015
Número
19
Como citar
MUSUMECI, Leonarda. “Eles nos detestam”: Tropeços do policiamento de proximidade em favelas. Boletim Segurança e Cidadania, n. 19, novembro de 2015.