Especialistas comentam plebiscito sobre comércio de armas, e internautas repetem resultado de referendo

RIO – A chacina na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, terminou com 12 crianças mortas, 12 feridas e um país inteiro chocado. O episódio trouxe à tona o debate sobre a proibição do comércio de armas de fogo, que pode ganhar um plebiscito em outubro, seis anos após o referendo sobre o fechamento do comércio especializado, quando mais de 60% da população brasileira foi contrária. Uma enquete do site do GLOBO, no entanto, revela que para os leitores o resultado de 2005 pode se repetir.

INTERNAUTAS : confira o resultado do vote sobre o comércio de armas

Dos 2.144 internautas que responderam se o massacre de Realengo mudou sua opinião sobre a proibição do comércio de armas, 66% afirmaram que continuam sendo contra, e 28% que à época foram a favor também disseram manter suas posições. Já o número de internautas que admitiram ter mudado de opinião foi baixo. Apenas 4% disseram agora serem a favor, enquanto 3% se tornaram contra.

– Fica claro que não é apenas um episódio dramático que será suficente para mudar a opinião das pessoas. O resultado mostra que o governo federal tem a grande responsabilidade de coordenar uma campanha de esclarecimento para que os brasileiros se dêem conta de que ter uma arma na mão não é garantia de segurança – afirmou Julita Lemgruber, diretora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes.

Para a socióloga, sem um investimento numa campanha informativa, não adianta fazer o plebiscito. E alerta para o perigo de apressar o processo:

– De imediato ele (o plebiscito) não deve ser feito. Acho outubro um prazo razoável, pois você teria cinco meses para investir. Um grande exemplo que nós temos foi com a campanha contra a Aids, que foi vitoriosa, por isso acho que temos condições de fazer uma boa campanha.

Já a antropóloga Alba Zaluar acredita que o resultado da enquete mostra que as pessoas sabem que proibir a comercialização das armas não vai resolver o problema.

– Isso não vai adiantar, pois as armas estão nas mãos dos bandidos, que não vão devolver ao Estado. Primeiro, é preciso desarmar essas pessoas e combater o tráfico ilegal de armas, que muitas vezes é feito pelo próprio policial e os colecionadores, pessoas que possuem autorização para possuir um armamento. Uma pesquisa que realizei em 2006 mostrava que apenas 5% das casas possuem armas, o que prova que isso não é uma questão crucial no Brasil – afirma.

Alba, que é pesquisadora do Núcleo de Pesquisa das Violências da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), criticou ainda a ideia de fazer um novo plebiscito. Para ela, seria melhor aplicar o dinheiro em medidas mais eficazes:

– Esse plebiscito vai custar caro, uma vez que o país inteiro será convocado para votar. Não seria melhor usar a verba em outras soluções, como desarmar os bandidos? Já fizeram essa tentativa pagando pelas armas, que teve um certo impacto, mas não foi muito grande. A política das UPPs e a mudança da política de Segurança Pública surtem um efeito muito maior – avalia Alba.

O sociólogo Ignácio Cano, pesquisador do laboratório de Análise de Violência na Uerj, no entanto, tem uma interpretação diferente. Para ele, o resultado da enquete, com números meramente interpretativos, é inverso ao clima geral das pessoas, que voltaram a discutir o assunto.

– Normalmente, as pessoas que estão mais motivadas a entrarem no site e participarem da enquete são aquelas contrárias à opinião geral. São as pessoas mais informadas, mais mobilizadas. É o caso de uma enquete sobre as drogas. A maior parte dos internautas que iriam participar seria dos favoráveis à legalização – ponderou.

Cano acredita que o massacre em Realengo reabriu o debate sobre a proibição do comércio de armas, mas tem dúvidas de quanto tempo isso vai durar:

– Isso já precisava voltar a ser debatido, mesmo que a chacina não tivesse acontecido. Acho que o clima mudou, com certeza, mas não sei quanto tempo isso terá um impacto.

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