Filme sobre violência policial abre a competição de documentários da Première Brasil

‘À queima roupa’, de Theresa Jessouroun, faz um apanhado das chacinas ocorridas no estado do Rio nos últimos 20 anos

RIO — Retrato da violência da polícia carioca e, por extensão da brasileira, o longa-metragem “À queima roupa”, de Theresa Jessouroun, abriu a competição de documentários da Première Brasil no final da tarde desta quinta-feira (24), no Cinépolis Lagoon, o cinema-sede do Festival do Rio deste ano. O filme, que não poupa o espectador de imagens chocantes de chacinas ocorridas em diversas favelas cariocas e na Baixada Fluminense, faz um apanhado dos episódios mais marcantes do noticiário dos últimos 20 anos envolvendo violência e corrupção policial, oferecendo o testemunho de sobreviventes, promotores de justiça e familiares das vítimas.

— A segurança pública brasileira é um tema difícil, mas urgente, e o melhor lugar para estrear este filme nesse momento é aqui no Festival do Rio, que nos dá a oportunidade de mostrá-lo para muitas pessoas — disse Theresa, ladeada pela equipe do longa, ao apresentar a sessão do filme, que lutou duas salas do complexo de cinemas à beira da Lagoa Rodrigo de Freitas. — A polícia militar mata, em média, quatro pessoas por dia no Rio; foram mais de 400 mortos só no ano passado. E nenhum candidato ao governo apresentou uma proposta concreta para o setor em suas plataformas. É uma chance para refletirmos sobre o assunto.

“À queima roupa” toma como ponto de partida o chacina de Vigário Geral, em 1993, quando 21 pessoas foram assassinadas, considerado o episódio em que a sociedade brasileira tomou consciência da histórica truculência policial, até chegar às execuções já com o aval do Estado, entre 2012 e 2013, já na era das Unidades de Polícia Pacificadora, as UPPs. Chega a mencionar, de passagem, o episódio envolvendo o desaparecimento do pedreiro Amarildo, na Rocinha, após uma sessão de tortura ministrada por policiais, recuperado por outro documentário da mostra, “O estopim”, de Rodrigo Mac Niven, que será exibido na segunda-feira, dia 29.

Os depoimentos do filme, que chega ao circuito comercial dia 16 de outubro, são contextualizados por imagens de arquivo e sequências encenadas, que recriam a memória dos sobreviventes dos crimes. O documentário resgata imagens da TV da época da chacina de Vigário Geral em que o então governador do estado, Leonel Brizola, diz que “a polícia militar foi desviada de suas funções pela ditadura militar”, aderindo à tortura e a violência contra a população. O filme conta com o depoimento de um X-9 (informante da polícia) que delatara, na época, o envolvimento de companheiros em ações de extermínio.

— A gente está vivendo um momento (político) importante. Espero que o filme chame a atenção das pessoas para o problema. Esses crimes continuam acontecendo impunemente. Nós precisamos mobilizar a sociedade de uma maneira mais ampla — afirmou a socióloga Julita Lemgruber, que serviu como consultora do filme, que tem fotografia de Walter Carvalho.

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