CONTEXTO
Para especialistas, situação em São Paulo é mais ligada à violência policial
Implementadas no Rio de Janeiro há quatro anos, as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) são uma experiência considerada bem-sucedida pelo governo do estado, pelos moradores das comunidade ocupadas e por especialistas.
Três eixos orientam o modelo, que começou na comunidade Dona Marta, em Botafogo, e na Cidade de Deus: a ocupação total e permanente do território por policiais; a retirada do armamento dos criminosos e o uso, no projeto, de policiais jovens, sem vícios de trabalho, principalmente a corrupção. As estatísticas comprovam que as UPPs reduziram o número de homicídios nas áreas ocupadas, reduzindo a violência e permitindo a entrada, na comunidade, de serviços formais — desde limpeza urbana a mutirões do Judiciário. Excluída do modelo tradicional de cidadania e acostumada a recorrer aos traficantes como “árbitros” em variadas questões, a população das áreas ocupadas passou a usufruir serviços comuns ao resto da cidade.
Para especialistas ouvidos pelo GLOBO, o modelo de Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) implantado no Rio de Janeiro pode não ser apropriado para a cidade de São Paulo. Eles argumentam que as características da violência paulistana são bastante diferentes das do Rio, onde traficantes fortemente armados dominavam territórios e afrontam as autoridades. Em São Paulo, a violência seria comandada por bandidos dentro de presídios dando ordens e provocando terror nas ruas.
Coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), da Universidade Candido Mendes, a socióloga Julita Lemgruber diz que a violência policial na capital paulista também está relacionada à onda atual de crimes. E critica a postura da Secretaria de Segurança de São Paulo.
— Em São Paulo, isso tem muito a ver com a violência policial O gráfico desse tipo de violência deu um salto gigantesco. Já se sabe que, quando há crescimento da violência policial, cria-se uma bola de neve, contamina tudo. A gestão de Ferreira Pinto (Antônio Ferreira Pinto, secretário de Segurança de São Paulo) tem a opção de combater violência com violência. Aqui já sabemos que dá péssimo resultado.
Julita cita dados sobre letalidade policial analisados pelo Instituto Sou da Paz, organização sediada em São Paulo que tem como objetivo trabalhar pela prevenção da violência. Em julho deste ano, 42 pessoas foram mortas em autos de resistência (em confronto com a polícia), número três vezes superior ao do mesmo mês do ano passado (13 pessoas). “Se nenhum crime aumentou 300% na capital, na comparação dos dados de julho de 2011 e 2012, o que pode explicar esse expressivo aumento na letalidade policial?”, pergunta o instituto.
Ignácio Cano, sociólogo do Laboratório de Análise da Violência, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), diz achar que a pacificação, da forma como foi concebida no Rio, só faz sentido quando o domínio territorial é armado e ostensivo: — É um processo caro, que necessita de policiais integrados. O que parece acontecer em São Paulo é a ação de grupos de extermínio.