O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, lamentou ter afirmado que o Rio não é violento. Essa declaração feita na quinta-feira, em Brasília, teve grande repercussão e gerou críticas.
Na tarde desta sexta-feira, Beltrame voltou atrás no que disse ontem em Brasília, na CPI da Violência Urbana, sobre os casos de violência no Rio: “É um número muito pequeno de pessoas pra causar um pânico em 16 milhões de pessoas, e para isso correr o mundo. O Rio de Janeiro não é violento, gente. O Rio de Janeiro tem núcleos de violência.”
Em uma nota, Beltrame disse que tem a exata dimensão dos problemas que enfrenta. E lamentou que, no ardor do debate, tenha dito que o Rio não é violento. No fim do texto, Beltrame aproveitou para se retratar com os moradores do Rio que, segundo ele, sempre apoiaram suas ações.
Mas, se levarmos em conta os parâmetros internacionais, será que a cidade e o estado do Rio de Janeiro poderiam ser considerados violentos? Especialistas no assunto disseram que sempre vão existir regiões onde a violência é maior ou menor, mas que isso não pode servir para dizer que a situação da segurança pública é normal.
“Na verdade, a Região Metropolitana do Rio de Janeiro concentra 13 milhões de pessoas. Quer dizer, a maior parte da população do Rio está na área metropolitana. E na área metropolitana é que a gente encontra altos níveis de violência, praticamente generalizada”, explica a socióloga Julita Lemgruber.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera Zona Epidêmica de Violência (ZEV) os locais onde a taxa anual de homicídios por 100 mil habitantes é superior a 10. Esse limite é superado em todos os municípios da Região Metropolitana do Rio, segundo dados do próprio Instituto de Segurança Pública (ISP).
Nas áreas integradas de segurança da capital, de Niterói e Itaboraí, a taxa variou de 20 a 35 homicídios por 100 mil habitantes, em 2008. A situação não é melhor em outros 11 municípios onde a variação foi de 38 a 45 homicídios por 100 mil pessoas. Duque de Caxias teve o pior resultado: quase 66 assassinatos por 100 mil habitantes.
No município do Rio, os bairros da Zona Sul apresentaram as menores taxas: entre 2 e 12 homicídios a cada 100 mil habitantes. As áreas de Copacabana e Botafogo foram as únicas da cidade que não seriam consideradas zonas onde a violência é grande. As maiores taxas foram registradas nas áreas integradas de segurança de Santa Cruz, Rocha Miranda e Centro: entre 50 e 75 assassinatos por 100 mil habitantes.
No ranking nacional da taxa de homicídios, em 2008, o estado do Rio ficou em quinto lugar, segundo pesquisas do Fórum Nacional de Segurança Pública, feitas em parceria com o Ministério da Justiça.
Para o economista Sérgio Besserman, perguntar se o Rio é ou não violento esconde outros problemas. “A violência é distribuída de modo muito desigual. Há áreas violentas e áreas com taxas de violência européias. Mas há alguns crimes que têm influência sistêmica. O controle de territórios por narcotraficantes ou milicianos se espalha em voto, se espalha no ambiente de negócios de toda a cidade. Os homicídios não esclarecidos, não investigados, afetam o ambiente democrático e o ambiente de negócios de toda a cidade. Nós termos algumas violências que dá para localizar. Portanto, é injusto a cidade pagar um tributo por problemas de fato localizados, mas também temos violências sistêmicas que afetam a vida democrática e o ambiente de negócios da cidade”, afirmou Besserman.