Sequência de crimes põe as polícias do Rio em xeque, e especialistas sugerem mudanças

Execução a sangue frio, ocultação de cadáver, formação de quadrilha armada, tortura seguida de morte, fraude processual, estupro coletivo. Cometida justamente por quem deveria combatê-los, a lista de crimes na conta de policiais civis e militares do Rio de um ano pra cá é extensa. Desde o caso Amarildo, pedreiro assassinado por PMs na Rocinha em julho de 2013 (25 deles respondem na Justiça pela morte), a sociedade fluminense presenciou uma série de absurdos — e, muitas vezes, os assistiu, já que celulares e até a câmera de uma viatura registraram parte dos desvios. A pergunta que fica, então, é a seguinte: será que tem jeito para as polícias do estado? O EXTRA convocou especialistas em segurança pública para tentar obter uma resposta.

— Existe uma falha tenebrosa na questão da formação. O Rio poderia formar dois mil PMs por ano, mas o número está em sete mil. Isso é péssimo, a preparação não pode ser boa com esse processo industrial. Acaba formando um “policial miojo”, instantâneo, sem qualidade — ressalta o coronel José Vicente da Silva Filho, ex-secretário Nacional de Segurança: — Em São Paulo, um policial é formado em dois anos. No Rio, são seis meses.

No fim de julho, em entrevista à “Rádio CBN”, o jurista Wálter Maierovitch também opinou sobre a questão da formação, analisando a situação de todo o país:

“As polícias militares são ingovernáveis. No Rio, tiveram a ousadia de matar uma juíza, a Patricia Acioli. Temos no Brasil inteiro policiais militares não-educados para a legalidade democrática. As academias, as escolas militares, não fazem esse trabalho”.

Para Julita Lemgruber, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, o primeiro passo é desmilitarizar.

— A polícia do Brasil sempre esteve envolvida com violência e corrupção. Não há área do crime organizado no país em que não haja policiais envolvidos — ressalta a pesquisadora, enumerando possíveis soluções: — É preciso investir no setor, melhorar a formação, aumentar salários, trabalhar na recuperação da autoestima desses policiais.

Entre os caminhos propostos, algumas sugestões são radicais.

— A existência da Core é um escândalo. A PM tem condições de fazer sozinha esse trabalho pesado de força tática. O papel da Civil deveria ser só investigar — afirma o coronel José Vicente.

Contudo, também há quem acredite que o cenário não é assim tão negativo.

— São problemas que existem em qualquer polícia do mundo, e precisam ser combatidos diariamente. O que não pode é ficar impune. Quando policiais são identificados, detidos e processados, eu bato palmas. E as investigações sobre desvios têm avançado, a Secretaria de Segurança vem tendo muito mais firmeza em relação a isso — pontua a antropóloga Alba Zaluar, professora da Uerj.

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