Tese é preconceituosa, afirma socióloga

Para estudiosa, paralelo feito por Cabral entre aborto e criminalidade foi lamentável, baseado em livro reacionário

Afirmações pressupõem que pobres cresçam marginais; segundo antropóloga, natalidade tem diminuído em favelas do Rio de Janeiro

DA SUCURSAL DO RIO

As declarações do governador fluminense Sérgio Cabral Filho sobre aborto e criminalidade foram atacadas por acadêmicos e adversários políticos.

A socióloga Julita Lemgruber, diretora do Centro de Cidadania da Universidade Cândido Mendes, no Rio, considerou a afirmação lamentável e afirmou que a tese defendida por ele, a partir do livro Freakonomics, é atacada pelos principais criminólogos do mundo. Lemgruber participou de debates com um dos autores do livro, o economista norte-americano Stephen Levitt, em que divergiu da tese.

É absolutamente lamentável que o governador, com a responsabilidade que tem, assuma que os filhos dos pobres devam ser necessariamente marginais. Foi uma frase absolutamente equivocada, afirmou. De acordo com a socióloga, trata-se de tese combatida, porque é reacionária e preconceituosa ao pressupor que filhos de pobres necessariamente crescem para ser marginais.

A antropóloga Alba Zaluar afirmou que, nas favelas do Rio, a taxa de natalidade tem diminuído muito, diferentemente do que acontece no Nordeste. Ela é altíssima no Nordeste, onde a pobreza é ainda maior e, por algum motivo e outras variáveis, esses marginais não aparecem lá. [É curioso que ele fale isso] justo quando as taxas de natalidade estão caindo muito -o que é comemorado pela área de saúde.

Adversários

O senador Marcello Crivela (PR-RJ), ligado à Igreja Universal e que apoiou Sérgio Cabral no segundo turno da eleição estadual de 2006, discordou das frases do governador. Morei dez anos na África, e lá não existe essa violência e o tráfico de drogas que temos aqui porque não existe a desigualdade social que temos no Brasil. Aqui, o consumo de drogas é maior exatamente entre a classe A, e não entre os pobres. Por isso, não podemos dizer que a pobreza é sinônimo de produção de marginal.

O ex-governador Anthony Garotinho, presidente regional do PMDB, também atacou a declaração do companheiro de partido. É uma posição que se assemelha muito ao nazismo. É fruto da prepotência e da arrogância que tomaram conta desse rapaz, afirmou Garotinho, por meio de sua assessoria.

O deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) também fez críticas. Defender o aborto como meio de controle da natalidade dos pobres, por serem estes potenciais criminosos, é justificar políticas de extermínio, inclusive na segurança pública, discursou em plenário.

De acordo com ele, ao falar sobre o aborto, Cabral ofendeu as mulheres da Rocinha e todas as comunidades pobres.

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