Dezesseis carros roubados, nove pedestres assaltados e cinco pessoas assassinadas. Esse é o total de ocorrências diariamente nas 13 cidades da Baixada Fluminense, segundo estimativa feita entre 2000 e 2005. Os números que impressionam fazem parte de uma pesquisa inédita divulgada pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes, publicada com exclusividade pelo GLOBO-Baixada. Foram avaliados sete tipos de crimes com base nos dados do Instituto de Segurança Pública do Rio: roubo e furto de veículos, homicídio e lesão corporal dolosos (com intenção de praticar) e roubos a transeuntes, a ônibus e a residências. Todos aumentaram nos últimos cinco anos. Os piores resultados foram os relativos a furto de automóveis (sem o motorista presente), que subiu 135%, e a roubo a pedestres, com um salto de 95%.
— O objetivo da pesquisa foi traçar um perfil e fazer um comparativo. A Baixada sempre aparece entre as regiões mais violentas do estado do Rio juntamente com a Zona Oeste e a Zona Norte. Mas o estudo ainda está em andamento. Falta produzir um texto analítico — diz Leandra Musumeci, coordenadora do trabalho e professora de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
De acordo com a pesquisa, Itaguaí lidera o ranking de assassinatos em 2005. Para cada cem mil habitantes, 82,6 pessoas são mortas. Duque de Caxias está em segundo, com 69,5 mortes para o mesmo número de moradores. Em seguida vem Belford Roxo, com 57,8; Queimados, com 52,4; e Nova Iguaçu com 49,5 mortes em apenas um ano.
Para o sociólogo e pesquisador José Cláudio Souza Alves, no entanto, os índices de violência na Baixada podem ser maiores do que os revelados no estudo da Universidade Candido Mendes. Segundo ele, os registros de ocorrência em delegacias da região nem sempre são feitos conforme o tipo de crime praticado.
— A polícia não registra como homicídio, por exemplo, quando encontra um cadáver. O auto de resistência, isto é, quando a polícia mata alegando reação da vítima, também não é registrado como homicídio. A realidade da violência é pior do que se pensa — afirma Souza, autor do livro “Dos barões ao extermínio: uma história de violência na Baixada Fluminense”, com 200 páginas, lançado em 2003.
Em cinco anos, Duque de Caxias tornou-se a campeã em roubos de carros. Do total de casos na Baixada (35.316), 39,9% (ou 14.106) ocorrem na cidade. A vice-campeã é Nova Iguaçu, com 23,6% (8.328). Já São João de Meriti aparece em seguida no estudo com 11,2% (3.960).
Outro dado da pesquisa está relacionado ao número de roubos a coletivos. Só no ano passado foram 1.616 registros, praticamente o dobro se comparado a 2003, quando foram contabilizados 816 casos do mesmo crime.
Instituto diz que cresceu roubo de veículos este ano
Segundo estatísticas de 2006 divulgadas pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), o índice de roubos de veículos na Baixada cresceu. O número de registros aumentou cerca de 15% no primeiro trimestre deste ano em comparação com o mesmo período do ano pass
Apenas na área do 15 Batalhão da PM (Caxias) foram registrados 665 casos de janeiro a março deste ano, o que representa 39,74% dos roubos de veículos praticados na Baixada. As estatísticas desse trimestre apresentam outro índice preocupante: o maior númer
O comandante do 15 BPM, o tenente-coronel Paulo Cesar Ferreira Lopes, credita 40% desse índice aos roubos praticados nas rodovias Washington Luiz e Rio-Magé. Mas ele afirma que bairros como Vinte e Cinco de Agosto, Vila São Luís, Parque Lafayete e Paulicé
— Em Caxias, o roubo de veículos é peculiar. Geralmente, os bandidos abordam as vítimas, retiram-nas do carro, levam os seus pertences, mas logo depois abandonam o auto em algum lugar. Por isso, a recuperação de veículos no município é de aproximadamente
O inspetor Delano, da Primeira Delegacia da Polícia Rodoviária Federal, nega que as rodovias federais sejam as responsáveis pelo alto índice na área do Batalhão de Caxias. Ele afirma que o número de veículos roubados nessas estradas diminui em quase 50% d
— Nós recuperamos nas rodovias veículos que foram roubados em outras áreas, como o Centro do Rio e em Caxias.
Quem trabalha ou mora em algum desses bairros citados tem casos para contar. Elisabete Guimarães que trabalha num trailer, há 28 anos, nas proximidades da Universidade Unigranrio, na Rua José de Souza Herdy, conta que o número de roubos de carros de estud
Dono de uma banca de jornais no bairro Vinte e Cinco de Agosto, Vander Oliveira, confirma a fama do lugar. No Domingo de Páscoa, a sua sogra teve o carro roubado na esquina de casa, perto da faculdade:
— Eram 10h da manhã quando dois homens armados mandaram que ela descesse do carro. No mesmo dia, ela encontrou o veículo sem o rádio.
O coronel Lopes ressalta que a PM tem um planejamento para diminuir em 10% o número de roubos em Caxias por meio de operações de revistas nos locais, em dias e horários de maior incidência do crime. O inspetor Delano informa ainda que a PRF, em conjunto c
Mesmo com as promessas das autoridades quem já teve o carro roubado alguma vez fica com o pé atrás. O comerciante C., de 45 anos, foi assaltado a mão armada na porta de casa em outubro passado, em Belford Roxo. Desde então, ele teve que mudar seus hábitos
— Antes de sair, verifico o movimento na rua e quando chego vejo se há alguém suspeito perto de casa. Se tiver, passo direto — afirma.
Colaborou Tatiana Furtado
Comerciante investe R$ 18 mil em segurança
Sérgio Lopes Figueira, de 45 anos, sentiu na pele o crescimento da violência na Baixada Fluminense nos últimos cinco anos, como revela a pesquisa divulgada pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes. Morador do K-11, em
Seu primeiro trauma na vida, segundo Lopes, ocorreu em 1de junho de 2000. Ele tinha acabado de sair do trabalho quando foi rendido por um bandido armado com revólver quando entrava em seu automóvel, sendo em seguida dominado por outro.
— Eu fiquei uma hora e meia em poder deles, sendo sempre ameaçado. Fui levado para Santa Cruz. Eles levaram meu dinheiro, meu celular e o carro. Foi um terrorismo. Eu não podia olhar para o lado — conta ele.
Três anos depois, outro sequestro relâmpago. Desta vez, em Belford Roxo, quando Lopes ainda era proprietário de uma farmácia. O comerciante foi abordado por dois bandidos e obrigado a ficar dentro do veículo. Desesperado, ele pulou do automóvel em movimen
— Foi na Rodovia Presidente Dutra, próximo a Acari. Sai do carro e corri no sentido contrário. Atravessei o canteiro central das pistas e pedi ajuda no posto da Polícia Rodoviária Federal, na Pavuna — lembra Lopes.
Entre março e abril deste ano, ainda de acordo com Lopes, o seu minimercado foi assaltado duas vezes. Numa delas, os bandidos prenderam o comerciante dentro do frigorífico. E, no último dia 8, o estabelecimento também foi invadido na madrugada depois que
— Eles levaram dinheiro, tíquetes refeição, vales-transportes, celular e um rádio — conta Sérgio.
Cansado da violência, o comerciante decidiu reagir. Ele investiu nada menos que R$ 18 mil num sofisticado sistema de segurança. Foram instaladas 16 câmeras, fios de alta tensão (oito mil wolts) nas grades que protegem o estabelecimetno comercial e alarmes
— É o mesmo sistema dos bancos, casas de câmbio e joalerias. Quando há invasão, as luzes se acendem, o alarme toca e a central é acionada. A empresa entrega um relatório do assalto e garante que os seguranças armados chegam em dez minutos — explica Lopes,
Mesmo com todo o aparato montado para tentar evitar mais assaltos e seqüestros relâmpago, o comerciante revela que, em todas as situações perigosas pelas quais passou, não procurou a polícia.
— Não faço registro de ocorrência. Não sei com quem estou me envolvendo. Em nenhum dos casos os bandidos eram os mesmos — diz.
Lopes, por sua vez, indica uma solução para acabar a com a violência: a prevenção. De acordo com ele, a região onde mora e trabalha deveria ter patrulhamento da polícia 24 horas por dia.
— Não há segurança. A Polícia Militar poderia construir um DPO (Departamento de Policiamento Ostensivo). Somente, às vezes, é que passa um carro da PM aqui — afirma o comerciante.
Casado, com um filho, Lopes descreve a tensão que enfrenta no seu dia-a-dia:
— Qualquer coisa me assusta, qualquer barulho. Até com as brincadeiras das crianças do meu prédio eu costumo me assustar. Continuo exposto e posso ser abordado a todo momento.
De 2000 a 2005, conforme a pesquisa divulgada pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes, as três delegacias de Nova Iguaçu — 52DP (Centro), 56 DP (Comendador Soares) e 58 DP (Posse) — registraram ao todo 2.913 homicídios dolosos; 8.328 roubos de veículos; 3.976 furtos de automóveis; 4.643 roubos a transeunte; 1.166 roubos em coletivos; 406 roubos a residências e 18.230 lesões corporais dolosas.
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