No ano passado, 1.063 pessoas morreram em ações de policiais do Estado, enquanto nos Estados Unidos foram 341
Nos 4 primeiros meses deste ano, os autos de resistência no Rio já cresceram 36,5% em relação ao mesmo período do ano passado
A polícia fluminense matou em 2006 mais pessoas em confrontos do que todas as corporações policiais que atuam nos EUA. Dados analisados pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes revelam que, no ano passado, 1.063 pessoas foram mortas em supostos confrontos com policiais no Estado do Rio. Deste total, 673 somente no município do Rio. Nos EUA, as estatísticas indicam que 341 pessoas morreram em confronto com a polícia.
As estatísticas mostram ainda que o patamar de pessoas que morrem sob o fogo de policiais no Estado tem se mantido elevado. Em 2005, o número de mortos chegou a 1.098. Em 2004, foram 983 vítimas.
Nos quatro primeiros meses deste ano, os autos de resistência (nome usado pela Secretaria Estadual de Segurança para mortes provocadas por policiais em serviço) já cresceram 36,5%, em relação ao mesmo período do ano passado.
Foram 449 registros, contra 329 de janeiro a abril de 2006. As estatísticas de maio e junho ainda não foram divulgadas pelo ISP (Instituto de Segurança Pública), autarquia encarregada de fazer o levantamento e publicá-lo na internet.
Enquanto as mortes aumentaram, caiu a quantidade de prisões e de apreensões de armas e drogas comparando-se os primeiros quatro meses do governo Sérgio Cabral Filho (PMDB) com igual período do último ano da gestão de Rosinha Matheus (PMDB).
De 1º de janeiro a 30 de abril deste ano, a Secretaria de Segurança registrou a apreensão de 3.806 armas, contra 4.275 no mesmo período do ano anterior -queda de 10,97%.
De janeiro a abril, registraram-se nas delegacias do Estado 3.428 ocorrências relacionadas a apreensões de drogas. De janeiro a abril de 2006, foram 3.720 casos -um decréscimo de 7,85%.
A pesquisadora Leonarda Musumeci, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, avaliou o avanço do número de mortes relacionadas à ação de policiais. “Os dados mostram que não há uma redução nem da violência policial nem da criminalidade geral no Rio. A justificativa seria, em tese, combater a criminalidade, mas ela não diminuiu, isso é só violência.”
De acordo com a pesquisadora, a referência é que a polícia do Estado mata quase três vezes mais do que a americana, considerada uma polícia “violenta”. Segundo Musumeci, a comparação com outros Estados do país é difícil porque nem todos divulgam informações.
Artigo de Fernando Veloso e Sergio Guimarães para o Grupo Rio destaca que um traço comum nas cidades que conseguiram reduzir seus índices de criminalidade nos últimos anos, como Nova York, Bogotá e Medellín (Colômbia), foi a implementação de reformas gerenciais na polícia para elevar a eficácia da ação policial.
Segundo eles, uma outra característica das experiências que obtiveram êxito foi a participação ativa do setor privado e da sociedade civil na gestão de segurança pública, por meio de parcerias com o setor público.