Queima de corpo camufla índice de homicídios

  

A prática dos traficantes de queimar os corpos de suas vítimas está distorcendo as estatísticas sobre a evolução da taxa de homicídios no Rio. Segundo um levantamento do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes, o número de homicídios dolosos (intencionais) teve variações pequenas a partir de 1998, enquanto o de desaparecidos disparou.

Entre os desaparecidos podem estar as vítimas de traficantes que foram eliminadas sem deixar vestígios, afirma Leonarda Musumeci, uma das coordenadoras do estudo. O número de desaparecidos quase dobrou de 1994 para 2003, saltando de 2.768 para 4.800 casos por ano. Em dez anos, 36.536 pessoas desapareceram no Estado.

Segundo a pesquisadora, nesse mesmo período, a quantidade de homicídios dolosos diminuiu. Em 1994, foram registrados 8.408 casos no Estado do Rio. Em 98, o número baixou para 5.741 e, em 2003, ficou em 6.624.

A queda fica mais evidente na evolução do indicador por cem mil habitantes, que baixou de 63,8 em 1994 para 42,0 em 1998 e ficou em 44,5 no ano passado.

Há informação da polícia de que 70% dos desaparecimentos estão relacionados a mortes e ao tráfico de drogas. A pesquisadora diz que os casos notificados pelas famílias são uma pequena parcela da realidade, porque os parentes temem retaliação.

Para Musumeci, o corpo em chamas em uma via pública no centro da cidade é um fato sem precedentes. “Nesse caso da Mineira, há um caráter simbólico de demonstração de crueldade, porque a queima foi pública”, afirma.

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