A classe média tem um aliado na invasão do submundo dos crimes, como o tráfico de drogas. A abordagem de suspeitos feita pela polícia do Rio de Janeiro segue o padrão do preconceito, excluindo os brancos e bem vestidos. Essa é a conclusão de um estudo inédito publicado no livro Elemento Suspeito, de Silvia Ramos e Leonarda Musumeci, do Cesec, da Universidade Cândido Mendes.
A pesquisa contou com 2.250 entrevistas domiciliares, além de grupos de discussão com universitários e jovens do ensino médio e consultas a policiais militares de cinco batalhões cariocas. O objetivo foi entender a distorção que faz com que negros sejam os mais parados nas blitze e duras, em geral, realizadas dentro ou perto de favelas.
José Junior, de 37 anos, negro, habitual freqüentador de favelas no Rio, é reiteradas vezes abordado. Lembra de um dia em que foi parado 13 vezes, em apenas seis horas. Ele tem as características do suspeito-padrão da polícia, mesmo sem ter relação com crimes. Junior é idealizador e coordenador da ONG Afroreggae, uma das mais bem-sucedidas iniciativas sociais do país.
Apesar de ser minuciosamente planejadas, com até duas semanas de antecedência, as blitze não têm critério. O controle do que é apreendido inexiste. Costumamos dizer que o policial usa o índice IGCC para determinar quem vai ser abordado: idade, gênero, cor e classe, explica Silvia. O suspeito-padrão, conforme as entrevistas com policiais e civis, é jovem, do sexo masculino, negro e pobre.
Além de apontar a questão, o estudo visa a buscar iniciativas para melhorar a relação da polícia com o cidadão. O Cesec uniu-se ao Afroreggae e, há dois anos, faz oficinas culturais com a polícia. Só que em Minas Gerais. Tentamos implantar o projeto no Rio, mas a polícia daqui é historicamente fechada, relata Silvia. As pesquisadoras prepararam uma palestra para apresentar os resultados nos batalhões. Até agora, não obtiveram permissão.