Mão de obra ociosa em presídios do Rio pode chegar a 80%

Presos do Rio trabalham reciclando madeira na Penitenciária Esmeraldino Bandeira, na Zona Norte | Crédito: Fundação Santa Cabrini

A Fundação Santa Cabrini, órgão do Governo do Rio que gerencia a mão de obra carcerária, estima que cerca de 40% dos presos condenados que estão nos regimes fechado, aberto e semiaberto do Rio poderiam estar trabalhando. O total é próximo de 12 mil pessoas. No entanto, apenas 1.955 apenados exercem alguma atividade.

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Mauro Monção de Freitas, de 51 anos, é de Macaé, no Norte Fluminense. Casado e pai de uma filha, ele foi condenado por tráfico de drogas. Cumprindo pena na Penitenciária Esmeraldino Bandeira, no Complexo Penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste do Rio, ele trabalha fazendo pães em uma das oficinas da unidade. É o trabalho e a fé que o ajudam planejar o futuro fora da prisão.

“Quando eu cheguei aqui, fiquei meio assustado com o local. Mas, graças a Deus, estou remindo a minha pena e, todo dia, vou trabalhando e agradecendo a Deus o que ele tem feito na minha vida”.

A Fundação Santa Cabrini, que gerencia vagas de empregos dentro de presídios no Rio de Janeiro, estima que cerca de 40% dos presos que já tiveram pena fixada pela Justiça tenham perfil para trabalhar. O percentual representa cerca de 12 mil pessoas. Atualmente, apenas 1.955 exercem alguma atividade, o que indica que mais de 83% da mão de obra disponível nas penitenciárias do estado está ociosa.

A ex-diretora do Desipe – Departamento do Sistema Penitenciário do Rio de Janeiro – e especialista em segurança, Julita Lemgruber, diz pensar que os presos não querem trabalhar é um mito.

“Há uma ideia generalizada de que o preso não quer trabalhar. Ledo engano. O preso busca o trabalho. Eu lembro que, quando eu dirigia o Sistema Penitenciário do Rio de Janeiro, quando a gente abria uma nova oficina, os presos disputavam aquelas vagas de uma maneira que nos surpreendia”, diz Julita.

Rio tem mais presos, mas menor proporção de detentos trabalhando

Total de presos sentenciados no Rio aumentou 28,85% nos últimos três anos, mas o número de presidiários trabalhando teve queda de 12,05%. Trabalho atrás das grades é uma chance ajudar a família e reduzir a pena. Confira a reportagem especial de Isabele Rangel: https://glo.bo/2xRfixk

Posted by CBN on Thursday, September 7, 2017

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Com o estado em crise, dar trabalho aos presos pode significar uma grande economia. Atualmente, o estado tem 1.302 detentos fazendo a limpeza e a conservação das unidades. O governo desembolsa cerca de R$ 9 milhões por mês com pagamento por essas atividades. De acordo com o presidente da Fundação Santa Cabrini, Jaime Melo, se o mesmo serviço fosse terceirizado, a despesa seria mais de 500% maior.

“É uma economia absurda. No caso das unidades prisionais, hoje quem limpa, recolhe lixo e apoia na parte administrativa são apenados, os chamados ‘faxinas’. O orçamento para pagar esses apenados é de cerca de R$ 9 milhões por ano. Se o estado tivesse que terceirizar essa mão de obra, seria R$ 60 milhões”.

Eriston Madeira é proprietário da Pão Empresa, que iniciou as atividades no Esmeraldino Bandeira em abril. Hoje a oficina produz 15 mil pães por dia. Diante do bom desempenho, ele já planeja abrir mais postos de trabalho e expandir a produção para até 50 mil pães por dia. Porém, Eriston diz que o mais importante é contribuir para a ressocialização dos presos.

“A mão de obra se torna um pouco mais barata. Tem a parte da instalação que o estado dá um apoio e tem a reinserção deles na sociedade, que o que mais importa. É acreditar que o preso possa ser novamente inserido na sociedade”.

A instalação da oficina, o treinamento e o transporte dos produtos ficam por conta do empresário, mas é o governo do estado que arca com despesas mensais como água, luz e gás.

Atualmente, há nove empresas atuando dentro das cadeias, onde os detentos atuam com reformas de contêineres, reciclagem de madeira, panificação, costura, entre outras. Há ainda nove parcerias públicas e privadas, que beneficiam os presos dos regimes aberto e semi aberto. Pai de 11 filhos, Anísio da Silva Dutra, está em sua segunda passagem pela prisão. Aos 43 anos, ele diz que não vai precisar de uma terceira chance e diz que as experiências lhe trouxeram aprendizado.

“Aprendi a viver com pouco dinheiro e não tirar de ninguém, nem vender nada para fazer mais dinheiro. Para mim, foi uma boa aprendizagem da segunda passagem pela cadeia. Não haverá terceira”.

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