Julita Lemgruber fala sobre a atuação da parlamentar e reitera a necessidade de denunciar abusos cometidos contra defensores dos direitos humanos
Reconhecida pelo seu trabalho como socióloga e pelas passagens como diretora do sistema penitenciário e ouvidora da segurança pública no Rio de Janeiro, Julita Lemgruber era, também, amiga de Marielle Franco, assassinada na noite de quarta-feira (14) no centro da capital fluminense. De um táxi, a caminho do velório da vereadora do PSOL, conversou com GaúchaZH na manhã desta quinta-feira (15). Consternada, a socióloga, que já recebeu ameaças de morte, evitou especular sobre as possíveis motivações do crime.
O que a morte de Marielle diz respeito à atual situação da violência pública no Rio?
O mandato da Marielle foi marcado pela luta de direitos de moradores de favela e periferia, pelos direitos da comunidade LGBT, pelas mulheres, uma luta feminista. A Marielle carregava muitas bandeiras e era uma figura absolutamente emblemática, icônica, guerreira e corajosa. Não se intimidava, mas denunciava as violações que chegavam a ela.
Na sua avaliação, as bandeiras de Marielle motivaram seu assassinato?
É difícil termos clareza sobre as motivações que levaram ao assassinato da Marielle. Neste momento, é importante multiplicarmos a voz da Marielle e transformarmos essa tragédia em um momento no qual muitos defensores dos direitos humanos precisam ser ouvidos e protegidos. Não é possível que, em um Estado sob intervenção federal e com essa dramaticidade do cotidiano da segurança pública, uma vereadora tenha sido executada dessa maneira. É o momento de todos nós, que temos corações e mentes no mesmo lugar,estarmos juntos para honrar a memória da Marielle e tornar a voz dela multiplicada.
Como era sua relação com Marielle?
Ela era minha amiga. Logo que ela resolveu se candidatar, fui uma das primeiras a apoiar e divulgar nas redes sociais. É, realmente, um golpe muito duro. Uma mulher negra, favelada, que conseguiu ser a quinta vereadora mais votada no Rio de Janeiro. Era uma liderança extraordinária. A tentativa de calar a voz da Marielle vai voltar em cima desse pessoal como um bumerangue. Vai multiplicar as vozes de todos que vem denunciando abusos que estão sendo cometidos no Rio de Janeiro, vem sendo cometidos há muitos anos pela polícia e que mesmo antes da intervenção federal têm se intensificado em algumas regiões.