Há vinte anos, a principal característica da criminalidade no Rio de Janeiro tem sido o controle de áreas da cidade por grupos ilegais armados.
A maioria das favelas e alguns bairros das zonas Oeste e Norte encontram-se dominados por grupos de traficantes e milicianos.
Essa dinâmica, única no Brasil e rara no mundo urbano contemporâneo, teve início na década de 1980 e desde então veio se expandindo.
Apesar de todo o sofrimento, o Rio se acomodou ao dilema: ou os moradores das favelas ficam entregues à própria sorte, à mercê de bandidos que se impõem pelas armas, ou as favelas são palco de operações que só ocorrem em áreas em guerra e assim mesmo não geram qualquer benefício sustentável.
A decisão de implantar policiamento comunitário permanente nas favelas, se for bem sucedida, não vai acabar com o crime e a violência – nem é o que promete a secretaria de segurança -, mas vai acabar com a lógica da territorialização, que transformou o Rio de Janeiro num caso sem solução para todos os demais problemas.
A instalação das Unidades de Polícia Pacificadora, se mantido o modelo adotado até aqui, vem se baseando em lógicas jamais experimentadas entre polícia e favelas: os policiais são especialmente selecionados, especialmente treinados, melhor remunerados, os oficiais são escolhidos entre a elite da corporação e o programa é a menina dos olhos de um governo que parece ter entendido que as UPPs não podem ser uma vitrine eleitoral, mas têm que produzir uma relação nova entre os moradores das favelas e a polícia, baseada no respeito.
Num processo de mudança decisivo como esse, é razoável esperar dificuldades, resistências e mesmo instabilidade nos padrões de criminalidade aos quais nos habituamos. Não é necessário idealizar as UPPs para compreender que elas são um acerto de contas tardio do Rio com suas favelas, que serão reintegradas à cidade.
A universalização da segurança pública é um passo necessário para que o Rio supere traumas recorrentes e pense em produzir cenários mais criativos e generosos para o seu futuro.
As UPPs são um acerto de contas tardio do Rio de Janeiro com suas inúmeras favelas.