Desde a década de 1990, o Rio de Janeiro conheceu experiências de policiamento comunitário ou de proximidade. Muitas trouxeram resultados positivos, mas foram desativadas, provavelmente por falta de apoio dos governos e da polícia. Hoje esse apoio está presente e, com a participação da população, poderá garantir a sustentabilidade do projeto.
As UPPs não podem ser vistas como um projeto acabado, mas como um processo. Seu sucesso depende de inúmeros fatores: um deles é a percepção dos policiais sobre o trabalho que realizam.
O Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), da Universidade Candido Mendes, pesquisou a visão dos policiais das UPPs, através de uma amostra composta por 349 soldados e cabos, os responsáveis, em última instância, pela execução do projeto. Os primeiros resultados consistem no momento zero, a partir do qual o CESeC pretende acompanhar o projeto, nos próximos dois anos. Os dados já foram apresentados à PM e à Secretaria de Segurança.
O comando das UPPs os considerou consistentes com suas próprias avaliações, e diversos aspectos apontados na pesquisa já mereceram investimentos e aprimoramentos.
Observou-se que os policiais, em sua maioria, ainda não viam as UPPs como um novo modelo, ou seja, não tinham “vestido a camisa” do projeto. Comparativamente a outras pesquisas, a satisfação com o trabalho na UPP se mostrou consideravelmente alta: 40% dos policiais se disseram satisfeitos na maior parte do tempo e 63% consideravam ter recebido uma formação adequada. Entretanto, mesmo considerando as dificuldades do trabalho nas favelas, foi alto o número de policiais que disseram preferir o trabalho em outras unidades da PM (70%). Quando instados a fazer sugestões para as UPPs, a maioria focou as condições de trabalho, reiterando a insatisfação com salários, instalações e distância entre o trabalho e a moradia. Os policiais demonstraram que suas demandas se assemelham aos de seus colegas dos batalhões tradicionais.
Segundo os policiais, a receptividade da população das favelas vem melhorando, graças à permanência e à forma de trabalho da polícia. Para 49% dos entrevistados, porém, a imagem das UPPs transmitida pela mídia é melhor do que a realidade. Talvez, porque a mídia não tem captado o ponto de vista dos policiais e suas dificuldades cotidianas.
O que se destaca dessa primeira etapa da pesquisa é a importância de que a formação dos policiais valorize os princípios do policiamento de proximidade e os elementos que reforcem a identificação dos agentes com o projeto, a novidade e a importância do trabalho. Embora, as UPPs estejam colhendo muito mais sucessos do que fracassos, há vários desafios. Um deles é fazer com que os policiais de ponta sintam-se também beneficiários e responsáveis pela mudança das relações entre população e polícia.