Em entrevista ao programa Encontro com a Justiça, da Rádio Manchete, na sexta-feira (9), a coordenadora do CESeC Julita Lemgruber afirmou que a guerra às drogas no Brasil só atinge os pobres e está levando ao superencarceramento.
“A guerra às drogas é uma guerra à pobreza, aos pobres, é uma guerra ao tráfico que acontece nas favelas, porque se realmente o interesse fosse combater o tráfico, essa repressão não estaria só nas favelas. (…) Temos um problema seríssimo de superencarceramento, diretamente relacionado à política antidrogas. A população prisional triplicou nos últimos 15 anos, mas a população prisional presa por tráfico de drogas triplicou nos últimos cinco anos. Grande parte da superlotação que vemos nas prisões está relacionada com a política antidrogas”, afirmou. De acordo com ela, 67% das mulheres presas no Brasil são detidas por “tráfico de drogas” – frequentemente com pequenas quantidades, levando drogas para um parente preso.
Para Julita, a sociedade brasileira deve “encarar com seriedade e serenidade o fato de que nossa legislação antidrogas não está nos levando a lugar nenhum”. “Precisamos entender e aceitar que as sociedades, desde os tempos imemoriais, usam drogas que alteram a consciência, para fins rituais, religiosos ou recreativos. Ninguém acha nada demais que as pessoas estejam nos bares tomando cerveja.”
Entretanto, embora as drogas ilegais sejam usadas por toda a parte, a repressão violenta é localizada. “Se há drogas ilegais, proibidas, por que só a repressão ao tráfico de drogas na favela? Moro na zona sul. Se eu quiser, hoje, quando chegar em casa, comprar qualquer tipo de droga – cocaína, maconha, crack, lsd , drogas sintéticas… Certamente vou conseguir um disque-delivery que, mais rápido que uma pizza, vai entregar droga na minha casa. A diferença é que essa pessoa que vai levar droga à minha casa não vai ter um policial com um fuzil apontado para sua cabeça.”
Veja o vídeo completo abaixo, com 1h de duração, a partir do 59º minuto: