Artigo: Morte de policial durante operação no Jacarezinho é prenúncio de medo para os próximos dias

Moradores protestam após ação policial que deixou mortos no Jacarezinho | Mauro Pimentel/AFP

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Ação mais letal da polícia na história do Rio deixou ao menos 25 mortos nesta quinta (6)

Quinta-feira, dia 6 de maio de 2021. Menos de três semanas após a audiência pública do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre operações policiais no Rio de Janeiro, a população do Jacarezinho acordou com dois helicópteros, ao menos dois caveirões e muitos tiros. Duas pessoas foram baleadas no metrô a caminho do trabalho. Até a publicação deste artigo, 25 pessoas haviam sido mortas na favela. A operação, liderada pela Polícia Civil com apoio da Polícia Militar, também teve ao menos um policial morto e outros dois feridos. O Jacarezinho sabe o que isso significa.

Em pesquisa que analisa dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) entre janeiro de 2010 e dezembro de 2015, a pesquisadora Terine Husek Coelho demonstra que a morte de um agente de “segurança” aumenta a probabilidade de homicídios contra cidadãos  na mesma localidade em 1150% no mesmo dia; 350% no dia seguinte, e 125% entre cinco e setes dias mais tarde.

Os dados ilustram um conhecimento que o morador do Jacarezinho e de outras favelas já tem. Em 2017 e 2018, respectivamente, quando um policial da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) da Polícia Civil morreu em outra operação como a de hoje e um delegado foi encontrado morto nas proximidades do morro, a Polícia Civil realizou duas semanas de operaçõesvingança na favela do Jacarezinho. Se hoje foram 25, quantos serão amanhã e depois, especialmente considerando a pesquisa mencionada acima?

Ainda estamos em pandemia, além disso. Os moradores precisam se vacinar, afinal, a saúde pública é um serviço essencial do estado. Mas mesmo sabendo que uma operação impediria a saída de pessoas para a vacinação, ela foi aprovada, o que nos mostra que talvez o serviço mais essencial do estado seja justamente o assassinato da população preta e favelada que mora no Jacarezinho, no Alemão, na Cidade de Deus, na Baixada Fluminense…]

Em reportagem ao vivo no Bom Dia Rio, uma moradora relatou que iria se casar nesta manhã, mas que não conseguiria sair de casa; outra testemunhou que estava planejado que desse a luz nesta manhã e não conseguia sair e chegar ao hospital, ou seja, uma que não pode trazer seu filho ao mundo ao mesmo tempo que em que outras mães choram a morte.

Voltando à audiência pública do STF, uma das determinações do ministro Edson Fachin era que as operações fossem previamente aprovadas pelo Ministério Público (MP) estadual. Em vista do contingente de policiais e de mandados autorizando a operação, há uma indicação de que o MP aprovou essa operação. O que mostra que as instituições estão funcionando, mas que isso também pode ser um problema.

Mas além de autorizar uma ação, o MP também deve garantir que todos os cuidados sejam tomados pelas polícias, controlando assim a ação policial, o que não acontece. O MP legítima a operação que até o momento matou 25 pessoas, além de não garantir o cumprimento de direitos constitucionais. Quero dizer que as polícias puxam o gatilho, mas nunca sozinhas.

Este artigo foi originalmente publicado no site Labjaca

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