A mensagem de esperança, a aposta na mudança e o carisma de um homem extraordinário emocionou multidões e conseguiu atrair milhares de voluntários que transformaram a campanha de Obama num fenômeno na história política americana que ainda será analisado por muito tempo. Num país onde o voto não é obrigatório, e dia de eleição não é feriado, americanos ficaram quatro, cinco horas na fila para votar. Votaram e elegeram Obama — o primeiro negro a comandar os destinos dos Estados Unidos, onde grupos que defendem a chamada supremacia branca são inúmeros, agressivamente atuantes, e onde os negros totalizam apenas 12% da população.
Acompanhei de perto, nestes últimos meses, como a campanha de Barack Obama alterou para sempre a forma de se fazer política nesse país, envolvendo uma legião de voluntários e utilizando a internet com competência jamais vista — para arrecadar fundos, mandar mensagens diárias para milhões de pessoas e divulgar vídeos. Pela primeira vez na História das eleições americanas os democratas tiveram o dobro dos recursos dos seus opositores e 95% desses recursos vieram de pequenas contribuições, muitas de cinco ou dez dólares, feitas pela internet.
O chamado movimento da base da sociedade ou grass roots movement, envolveu o país numa cruzada cívica sem precedentes. A quantidade de voluntários que dedicaram horas de seus dias ao trabalho por seu candidato, seja nas ruas, em suas casas, ou nos comitês distribuídos por todos os lados, superou as expectativas mais otimistas dos organizadores da campanha.
Equipes de voluntários, principalmente de jovens, organizaram-se para telefonar para eleitores desenvolvendo os chamados phone banks, que funcionavam até quinze horas por dia, em espaços cedidos por apoiadores de Obama. Só na véspera das eleições foram feitas mais de dois milhões de ligações em todos os Estados Unidos. Nos estados onde a disputa estava mais acirrada, milhares de entusiastas da campanha bateram de porta em porta vendendo seu candidato, distribuindo material de divulgação e anotando os nomes de eleitores, interessados em votar em Obama, que precisavam de carona para ir votar ou de alguém para ficar com seus filhos pequenos enquanto votavam.
A estratégia que muitos chamaram de recidadanização foi também vitoriosa. Estimulados pela mensagem de mudança, milhões de americanos, principalmente negros e hispânicos, que jamais se registraram para votar, seja por desencanto com a política, seja por descrença dos políticos, seja por não acreditar que seu voto faria qualquer diferença, votaram pela primeira vez. E votaram majoritariamente em Obama.
Ao longo dos meses, voluntários trabalharam com algumas metas muito claras: convencer democratas históricos de que a campanha não estava ganha e que cada voto contava; convencer democratas, que não gostavam muito da idéia de um negro como presidente, de que Obama era a única opção para mudar o rumo do país; convencer os chamados independentes, eleitores sem filiação republicana ou democrata, de que a crise econômica não poderia ser resolvida com a continuação da política de Bush, representada por McCain; e, finalmente, convencer republicanos frustrados com a guerra no Iraque e a excessiva desregulamentação da economia, de que Obama era a opção adequada para todos os americanos.
As eleições americanas de 2008 já fizeram história e quem não acreditou que Obama e seus voluntários mudariam os rumos do país se deu mal. Brasileiros e cariocas têm muito a aprender com estas eleições.