Antes disso, sabemos o que são direitos humanos?
Em 16 de agosto, após ser questionado sobre a assassinato de 6 jovens em 5 dias, o governador Wilson Witzel responsabilizou defensores de Direitos Humanos pelos assassinatos no Rio de Janeiro. Essas mortes são sua culpa, governador. Porém, sua verborragia nos permite fazer um questionamento de nossas tarefas como ativistas da mudança, como provocadores do status quo, como críticos da tirania, da arbitrariedade e do abuso contra a dignidade da pessoa humana. Sabemos o que são direitos humanos?
Os direitos humanos se aplicam a todas as pessoas do mundo: não importa de onde elas vêm, que religião, profissão, idade ou sexo elas têm. Os Direitos Humanos foram formalizados pelas Nações Unidas em 1948, e muitos Estados ratificaram o documento ou introduziram em suas constituições.
Os direitos humanos são direitos mais básicos, como o direito à vida e à liberdade. Toda pessoa deve ser capaz de acreditar no que ele quer e, portanto, não sentir-se menosprezada por isso. Os direitos humanos também significam que todas as pessoas têm direito ao julgamento justo e são consideradas inocentes até que se prove o contrário. O direito à educação também é um direito humano. Estes são apenas alguns deles.
Devemos pensar na defesa desses direitos como uma discussão pública, como um respeito necessário pelos diferentes, como uma luta sempre em vigor e, por que não, como um inevitável amor ao próximo. Afinal, defender os direitos humanos significa demonstrar empatia e solidariedade genuína pelo sofrimento dos outros. Defender os direitos humanos significa não normalizar as 881 mortes decorrentes de intervenção policial nas favelas do Rio de Janeiro nos primeiros 6 meses do ano.
A defesa dos direitos humanos carrega uma importante dimensão ética e alta responsabilidade pela coerência. Também implica obstáculos, contradições, dúvidas e erros. A defesa dos direitos humanos implica uma dose de utopia, o desejo por uma sociedade mais justa e igualitária.
Em muitas circunstâncias, este trabalho envolve riscos, acusações errôneas, preconceitos e estigmas. Talvez envolva um ato de fé no humano, numa busca contínua de mecanismos que possam por fim ao sofrimento de populações inteiras. Significa aspirar viver em sociedades onde os Direitos e as Liberdades são garantidos por todos e a todos igualmente. Significa prudência e precisão para se portar nas mais árduas situações, reconhecer que aqueles que violam direitos, por mais sinistras que sejam suas ações, são também credores deles.
A defesa dos direitos humanos não é e não pode ser uma tarefa exclusiva de um grupo. Não podemos deixar que pessoas historicamente marginalizadas como, por exemplo, os 11,5 milhões de moradores de favelas ao redor do Brasil, gritem por mudanças sozinhos. Direitos humanos devem ser entendidos como uma semente a ser regada na busca do florescer de uma nova sociedade.
Todas as pessoas podem e devem ser defensoras dos direitos humanos, desde o babalorixá, com sua luta contra intolerância religiosa, até os atos que os estudantes realizam nas ruas contra os cortes na educação. De jornalistas com sua voz de denúncia a funcionários públicos que exaltam seus deveres, dos povos indígenas aos movimentos camponeses, da firmeza das mulheres à coragem das comunidades lésbicas, gays, bissexuais, trans e intersex, da luta de negros e negras contra o racismo estrutural às famílias das vítimas de violações de direitos humanos, até mesmo o jovem que cede o lugar para uma idosa no transporte público. Tudo isso são direitos humanos.
Defender os direitos humanos é pensar em si mesmo e no próximo, pois quando permitimos que alguém não tenha acesso a esses direitos de forma plena, abrimos brecha para que eles também nos sejam negados. Defender os direitos humanos é reivindicar humildemente transformações democráticas e sociais que implicam a apropriação desses direitos por todas as pessoas, para que possamos construir em liberdade, sem discriminação e sem temer o destino de nossas vidas.