Comunidades, que abrigam cerca de 3.800 moradores, vem sofrendo com disputas de facções nos últimos dois anos
RIO — Incrustadas num bairro de classes média e alta, as comunidades da Babilônia do Chapéu Mangueira – que estão em guerra desde sábado – são pequenas (as duas tem cerca de 3.800 habitantes). Nos tempos do auge das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadoras), as duas favelas, localizadas no Leme, viveram um período calmaria, em que bares, restaurante e hostels abriram as portas e passaram a atrair turistas e cariocas. Em 2015, a Babilônia emprestou seu nome para uma novela da TV Globo, numa trama que retratava a realidade de uma favela carioca. Com o declínio do programa, elas passaram de áreas pacificadas a regiões de constantes confrontos. Nos últimos dois anos, os moradores dos dois morros se viram no meio de uma disputa: criminosos de facções rivais têm travado uma guerra pelo controle dos pontos de venda de drogas. Trocas de tiros, balas perdidas e operações policiais viraram rotina. Segundo o aplicativo OTT-RJ (Onde Tem Tiroteio), ano passado foram relatados 43 tiroteios no Leme. Este ano, até agora foram seis registros de tiroteios no bairro. No ano passado, uma operação do Batalhão de Ações com Cães (BAC) terminou com a prisão de André Luiz dos Santos, conhecido como André GG e apontado como chefe do tráfico da Babilônia, no Leme. Houve confronto durante a ação, que começou por volta das 8h30m. Pelas redes sociais, muitos moradores, assustados com o tiroteio, relataram que ouviam barulho de bombas e de helicóptero sobrevoando a região. Em maio de 2017, O GLOBO publicou uma reportagem contando como a violência vinha afetando o comércio e o mercado imobiliário das comunidades. Na favela do Chapéu Mangueira, até 2016, as melhores casas e apartamentos eram disputados. Uma quitinete era alugada, em média, por R$ 1.300 — em 2017, por R$ 600, era difícil conseguir interessados. Para Julita Lemgruber, socióloga e coordenadora Centro de Estudos de Cidadania na Universidade Candido Mendes (CESeC), o retorno das disputas de traficantes pelos territórios de favelas da Zona Sul é resultado de uma aposta equivocada na repressão violenta. — O que a gente tem que admitir é que tráfico de drogas existe em todos os lugares do mundo e no Rio de Janeiro não seria diferente. No entanto, é o varejo do tráfico que acontece nas favelas que recebe a força repressora do estado. A ponta do fuzil está sempre virada para a favela, não está virada para outras áreas — diz ela, que cita a tese do diretor executivo da LEAP — Law Enforcement Action Partnership (Parceria de Agentes da Lei para a Ação), Neill Franklin — O Neill Franklin diz que a polícia é uma variável que provoca desequilíbrio no universo do varejo que acontece nas áreas pobres das cidades americanas e isso não é diferente no Rio de Janeiro. Quando há períodos sem incursos policiais, a sensação que se tem é que os diferentes grupos se acomodam em seus espaço e durante algum tempo os moradores vivem uma tranquilidade. A Rocinha é o melhor exemplo disso, até a incursão desastrada do ano passado, a Rocinha ficou durante ano vivendo com bastante tranquilidade. A solução que ela aponta é a polícia não aferrar estes conflitos, partindo da premissa que de você pode sim dar segurança a estas comunidades a partir até de um policiamento comunitário que honre o nome. Porque as UPPs fracassaram por jamais terem se transformado realmente num tipo de policiamento que moradores respeitassem — completou Julita.