Como combater a droga, o tráfico e os abusos dos bandidos? É um problema de Estado que se reflete nas ruas. A cada dia, são mais quadrilhas, mais tiroteios e novas vítimas.
A polícia persegue, enfrenta, mata e prende bandidos em fuga. É a guerra contra o tráfico. A polícia agiu bem? O debate divide opiniões no Rio de Janeiro. É um grande desafio não só no Rio, mas em todas as grandes cidades brasileiras.
Para enfrentar os traficantes, é inevitável entrar em confronto? E as balas perdidas? Como evitar que cidadãos de bem sejam vítimas desse fogo cruzado?
No jardim do edifício que fica na Lagoa, Zona Sul do Rio, está a sobra de dois dias de confronto. “Subi e vim dar uma olhada para ver se tinha alguma coisa só por curiosidade e encontrei a granada”, conta o porteiro Alan Alves da Silva.
A polícia montou uma operação para detonar o explosivo. “As pessoas que moram aí devem sair, porque se voar algum estilhaço quebra um vidro, mas não acerta em ninguém”, orienta o policial antes de a granada ser detonada.
A Polícia Militar recomeçou nesta quarta-feira (25) a caçada aos bandidos que tentaram tomar o controle do tráfico na Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana. Os policiais vasculharam a mata atrás de criminosos e descobriram um acampamento que teria sido usado pelos traficantes. A polícia apreendeu granadas, munição e carregadores de armas.
A estratégia de ocupação dos morros e combate direto ao tráfico de drogas gera polêmica desde que foi a implantada há dois anos no conjunto de favelas do Morro do Alemão, no subúrbio do Rio. Mas o que acontece quando esse enfrentamento resulta em tiroteios constantes e invasão dos morros, e a violência amedronta e atinge não só os moradores das comunidades carentes, mas a população de cinco bairros diferentes da Zona Sul do Rio de Janeiro?
Durante os dois dias de enfrentamento, Copacabana, Botafogo, Lagoa e Humaitá tiveram prédios atingidos pelos tiros. Em Copacabana e no Humaitá, escolas e creches fecharam. Uma bala chegou até um apartamento no Jardim Botânico. Gente que nunca tinha visto a violência tão próxima se viu no meio do confronto.
“Virou uma praça de guerra, literalmente. Foi muito tiro, muito tiro. Eu imaginei que tinha morrido muita gente”, comentou um senhor.
As pessoas continuam com medo. “Uma coisa horrível. Eu nunca vi isso na minha vida. Foi a primeira vez. Moro há mais de 50 anos no Rio. Escuto falar dos outros, mas agora aconteceu aqui perto de casa”, disse uma senhora.
Sociólogos criticam a política do enfrentamento
“Se a polícia pontualmente enfrentar o tráfico nesta ou naquela comunidade e depois se retirar, isso apenas se traduz em medo, mais insegurança para a população e eventualmente mortes e balas perdidas. A grande questão é: quando essa violência ocorre no coração da Zona Sul, mobiliza corações e mentes. No entanto, essa violência, quer dizer, a forma violenta com que a polícia tem enfrentado o tráfico de drogas no Rio de Janeiro acontece cotidianamente nos bairros pobres”, pondera a socióloga Julita Lengruber.
“Nós temos de combater, fazer o quê? Botar a cabeça embaixo da mesa? Deixar que isso tome conta do Rio de Janeiro como tomou? Temos de agir e fazer disso uma política de Estado, para que daqui a 5 ou 15 anos outras áreas sejam ocupadas e que a gente consiga criar um ambiente de segurança. O usuário de drogas, dentro dessa cadeia, tem uma participação importante. Essas pessoas brigam, no fundo, por dinheiro. E de onde sai o dinheiro? De quem consome”, declarou José Mariano Beltrame, secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro.
Apesar do clima de insegurança, a associação dos moradores e a Sociedade dos Amigos de Copacabana apoiam a ação do governo.
“O poder público não pode ficar passivo diante da criminalidade. Tem de haver o enfrentamento, isso é inevitável. Agora tem de ser feito dentro de critérios e dentro da racionalidade, levando sempre em consideração a segurança da população”, disse Horácio Magalhães, presidente da Sociedade Amigos de Copacabana.