Mais mortes em áreas de UPPs: casos sobem 55,3%, de acordo com o ISP

Estado culpa volta às favelas de traficantes que estavam presos

RIO — Os números de letalidade violenta nas 38 áreas com Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) do Rio voltaram a subir no primeiro semestre deste ano. Estatísticas divulgadas ontem pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), do governo do estado, revelam um aumento de 55,3% no item, que engloba homicídio doloso, homicídio decorrente de intervenção policial, roubo seguido de morte e lesão corporal com morte (no entanto, não houve registro dos dois últimos crimes). Enquanto os primeiros seis meses de 2014 tiveram 47 casos (sendo 35 de homicídio doloso), no mesmo período deste ano foram 73 (56 homicídios dolosos). As regiões mais violentas foram as das UPPs do Alemão e do Morro de São Carlos, com oito mortes cada; da Coroa, do Fallet e Fogueteiro, com sete, e da Rocinha, com seis.

Para o ISP, a explicação para o crescimento dos homicídios dolosos está na sangrenta guerra travada nas comunidades da Coroa, do Fallet, Fogueteiro e São Carlos em maio deste ano, quando 11 pessoas foram assassinadas. O porta-voz das UPPs, major Ivan Blaz, culpa o retorno ao tráfico de criminosos egressos do sistema prisional — beneficiados pela progressão de regime ou que não voltaram às prisões após conseguirem direito a visitas periódicas ao lar — pelo recrudescimento da violência nessas áreas.

— A partir de meados de 2014 e até o primeiro semestre de 2015, as UPPs enfrentaram um grande desafio, que foi o retorno de cidadãos presos na implantação da pacificação e que, de alguma forma, conseguiram sair do sistema prisional. Tivemos a presença deles em diferentes locais, como no complexo da região do Estácio, com Fu da Mineira (Ricardo Chaves de Castro Lima) tentando retomar o território para o tráfico — afirma o major.

Em 2013, Fu da Mineira fugiu do Presídio Estadual Edvan Mariano Rosendo, em Rondônia, depois de ser beneficiado pela Justiça Federal com regime semiaberto. Por trás dos conflitos que aterrorizaram Santa Teresa em maio, ele acabou preso em agosto deste ano junto com Cláudio José de Souza Fontarigo, o Claudinho da Mineira, seu primo. Com Fu, foi apreendido um fuzil americano Barret .50, usado por diferentes forças armadas e capaz de derrubar um helicóptero.

Para o coronel José Vicente da Silva Filho, ex-secretário nacional de Segurança Pública, o aumento da letalidade violenta em áreas com UPPs mostra que a política de pacificação passa por um momento delicado. Ele acredita que os criminosos, depois de um período de retração, voltaram a se organizar, não só para exercer o tráfico em comunidades pacificadas, mas também para atacar policiais.

— A criminalidade passou a atacar policiais, que agora enfrentam limites na sua atuação. Eles vão até determinado muro e dali não avançam. Pensam que não vão arriscar a pele. Um fenômeno de que pouco se fala é que a polícia do Rio está com medo — diz José Vicente.

SOCIÓLOGA CRITICA POLÍTICA DO CONFRONTO

Segundo ele, outro fator que pode estar levando ao aumento de violência em áreas com UPPs é que a política de pacificação investiu muitas fichas na presença ostensiva de PMs, mas não tomou medidas que enfraqueçam a logística dos criminosos:

— A UPP é um dos lados do combate, mas só o policiamento ostensivo não adianta. Precisaríamos ter um setor de inteligência mais forte, a presença de policiais civis investigando.

Para a socióloga Julita Lemgruber, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes, o aumento da letalidade violenta em áreas com UPPs tem relação direta com a política de segurança do estado:

— Esse resultado reflete a política de segurança que se elegeu como prioritária, que é a do confronto.

De acordo com os dados do ISP, esta é a segunda vez em que as estatísticas (referentes ao primeiro semestre) de letalidade violenta em áreas com UPPs apresentam crescimento. A primeira vez foi no ano passado, quando as mortes chegaram a 47, contra 34 nos primeiros seis meses de 2013 (crescimento de 38,2%). Até então, o índice vinha apresentando quedas constantes. No primeiro semestre de 2008 (época da implantação da primeira UPP, no Dona Marta), foram 179 vítimas no total. O ISP ressalta que, mesmo com o crescimento registrado agora, os casos ainda continuam abaixo (59,2% menor) dos verificados naquela época.

Sobre os números do primeiro semestre deste ano, 17 das 73 mortes foram classificadas como homicídio decorrente de intervenção policial. As UPPs também enfrentaram seis mortes de policiais militares no período: dois tanto na Cidade de Deus quanto no São Carlos, um no Alemão e um na Fazendinha. Em 2014, foram cinco.

Em nota, a Secretaria de Segurança apresentou o mesmo argumento do ISP: “mesmo com o aumento, o número de letalidade violenta ainda é 59,2% menor do que o do primeiro semestre de 2008, ano da implantação da primeira Unidade de Polícia Pacificadora”.

Visualizar matéria

versao para impressão

Mais Participações