Falta de recursos exige que trabalho de inteligência seja aprimorado. União de esforços em todos os níveis de governo é a solução imediata
RIO — De especialista em segurança pública, assim como de técnico de futebol, todo carioca cansado da violência urbana tem um pouco. Difícil é encontrar os que mantêm a esperança de ver os problemas resolvidos. Mas quem estuda o tema é unânime em defender que há caminhos para chegarmos à paz. E começar a trilhá-los é urgente. Não dá para esperar as eleições de 2018 ou a liberação de grandes verbas.
— O Rio é um estado rico que foi mal administrado. Uma nova gestão pode recuperá-lo, mas temos que agir rapidamente. Do contrário, mandamos uma mensagem errada para a população e os criminosos. Afinal, o medo gerado pelos altos números de letalidade só beneficia os criminosos — resume o coronel Robson Rodrigues, ex-coordenador geral das UPPs. — Como os recursos são parcos, precisamos utilizá-los melhor. Por exemplo: há muitos policiais civis e militares lotados em outros órgãos, como o Ministério Público, o Tribunal de Justiça e a Assembleia Legislativa, que têm receitas próprias para segurança privada. Ou alocados em batalhões como o de Grandes Eventos, que já não se justifica, pois os grandes eventos já acabaram, e o Grupamento Especial de Policiamento em Estádios, que é um serviço privado em quase todo o mundo. Para isso, dá até para pagar os PMs em suas folgas. Afinal, não é caro. Temos que recuperar os efetivos e usar os recursos com inteligência.
— Se a curto prazo não temos recursos financeiros nem gestor com força política, precisamos reduzir danos. Planejar um número maior de operações e investir na investigação — acrescenta o sociólogo Ignacio Cano, do Laboratório de Análise da Violência (LAV) da Uerj.
Como o problema não se resume à cidade do Rio — é na Região Metropolitana que se concentra o grosso do volume das ocorrências — quem estuda o tema tem uma certeza: é preciso juntar esforços municipais num plano regional de segurança que seja holístico. Ou seja, não se restrinja à ação policial.
— É preciso pensar em políticas de prevenção com secretarias como as de Ação Social, Educação, Cultura… Não somente de Segurança. E com a participação de gestores que tomem a política para si — explica o sociólogo Doriam Borges, também do LAV/Uerj.
Assim surgiram projetos como o das UPPs, que não tiveram o sucesso esperado porque, entre outros problemas, não conseguiram essa sinergia.
— Lá fora, onde esse tipo de política foi criado, é diferente. Aqui, ficou tudo com a Polícia Militar, que não foi modernizada. Nem a Polícia Civil, investigativa, atuou. Que dirá outros órgãos — analisa o coronel Robson. — A base do sucesso é a confiança. O processo de aproximação com a população foi super positivo, mas não funciona em situações de medo. Perdeu-se a mão. E o uso excessivo da força gera reação.
A coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, Silvia Ramos, lembra que se o trabalho das polícias fosse feito em conjunto, com sistemas integrados, não seria necessário ter tantos policiais nas ruas. Outra ideia de especialistas para melhorar as taxas de investigação é acabar com o plantão de 24h por 72h na Polícia Civil. Eles também propõem que as ações de segurança incluam as da área penitenciária.
— Por que essas duas secretarias são separadas? É muito gasto — sugere o coronel Robson, para quem também ajudaria se a repressão ao narcotráfico ficasse com a Polícia Federal. — Somos credores da União, atuamos num crime que é de responsabilidade dessa esfera. A PF poderia compor uma força-tarefa com a PM, ou então a União poderia bancar a ação da polícia estadual.
Segundo o secretário de Segurança Pública, Roberto Sá, forças-tarefas já estão sendo articuladas, em iniciativas como a criação do Grupo Integrado de Operações de Segurança Pública (Gosp), inspirado no sucesso das operações que uniram as inteligências de PM, Polícia Civil, Secretaria de Segurança, Polícia Rodoviária Federal, Secretaria Nacional de Segurança Pública e Secretaria de Assuntos Penitenciários nas Olimpíadas. Ele destaca ainda a Desarme, delegacia especializada em armas, munições e explosivos, para mapeá-los e apreendê-los.
— As coisas não estão como gostaríamos, mas se tem algo que funciona, apesar da calamidade pública e financeira em que vivemos, são as polícias. Apreendemos, em média, por dia, 24 armas de fogo, incluindo um fuzil. Só no primeiro semestre deste ano, foram 300 fuzis apreendidos, contra 371 em todo o ano passado. E prendemos quatro mil pessoas por mês. Tudo isso sem recursos humanos e de custeio — diz ele, informando que trabalha com um orçamento contingenciado em 60%, dos quais 96% destinados à folha de pagamento. — Sobram 4% para custeio e manutenção das duas polícias.