O observatório da Intervenção, coordenado pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, classificou o assassinato da vereadora Marielle Franco, ocorrido na noite de quarta-feira no Centro do Rio, como um crime político que ameaça ativistas de favela, lideranças comunitárias e defensores de direitos. Nota assinada pela coordenadora Sílvia Ramos pede a elucidação do crime pela Polícia Civil e uma resposta da Polícia Militar para que cessem suspeitas sobre a atuação de PMs.
Marielle Franco era uma das participantes do Observatório de Segurança.
Quatro dias antes de ser morta, a vereadora usou as redes sociais, no sábado, para denunciar ação de policiais militares em um carro blindado na Favela de Acari, na Zona Norte do Rio. “Precisamos gritar para que todos saibam o está acontecendo em Acari nesse momento (…) Nessa semana dois jovens foram mortos e jogados em um valão. Hoje ( sábado) a polícia andou pelas ruas ameaçando os moradores. Acontece desde sempre e com a intervenção ficou ainda pior”, escreveu Marielle .
No mesmo sábado, moradores de Acari usaram as redes sociais para dizer que tiros foram disparados por policiais nas localidades conhecidas como Casinhas, Rua da Lama e Guaiúba.
Num dos áudios que circulam nas redes sociais, uma mulher reclama que a ação estava atingido até a casa dos moradores . “Os canas estão esculachando os moradores. Vou mandar foto de tiro na casa dos outros. Tá certo isso não. Em pleno sábado.”, disse a moradora chorando. Uma outra mulher postou nas redes sociais um relato, dizendo que estava com medo. “ Meus Deus, muito tiro aqui entre a rua Da Lama, perto do Videral. Muito tiro. Gente, estou com medo de verdade. Tô com medo.”
Outros moradores postaram fotos de um blindado do 41º BPM (Irajá) circulando pelas ruas da comunidade. “ O blindado brotou nas Casinhas”, avisou um morador num áudio.
Abaixo, a íntegra da nota do Observatório da intervenção.
“O Observatório da Intervenção, iniciativa coordenada pelo CESeC juntamente com diversas entidades, vive esse momento não só com profundo pesar, porque Marielle era uma das participantes do Observatório, mas com imensa preocupação. Independentemente da motivação dos autores da execução, o que houve ontem foi um assassinato político. Trata-se de um novo degrau de aprofundamento das dinâmicas de violência no Rio de Janeiro, inaugurando uma nova modalidade de homicídio, o homicídio estritamente político. A morte de Marielle representa uma ameaça aos ativistas de favelas, às lideranças comunitárias e aos defensores de direitos.
A polícia militar precisa dar respostas imediatas que façam cessar suspeitas sobre atuação de seus policiais. A polícia civil deve elucidar o crime de forma exemplar. E sobretudo o comando militar da intervenção federal deve respostas à sociedade. O Rio sob intervenção tem sido o local onde mortes por violência e mortes e agressões por violência policial continuam prevalecendo. É responsabilidade dos interventores deter os crimes de ódio aos defensores de diretos. Rio de Janeiro, 15 de março de 2018 .Silvia Ramos – Coordenadora do Observatório da Intervenção.”
O carro em que a vereadora viajava foi metralhado, na noite desta quarta-feira, no Centro do Rio. Os disparos foram feitos de um automóvel que emparelhou com o veículo onde Marielle estava. Ela viajava no banco de trás. Além de Marielle, o motorista Anderson Pedro Gomes também foi baleado e morreu. Uma assessoria que viajava no banco do carona conseguiu sobreviver.