Matéria revelou a rotina de exploração e agressões dos dependentes químicos internados no centro de recuperação Resgatando Vidas, em Goiânia
A reportagem investigativa “Foragido da justiça, pastor explora usuários de drogas em recuperação”, publicada pelo semanário Tribuna do Planalto, ganhou o primeiro lugar na quarta edição do Prêmio Gilberto Velho Mídia e Drogas 2017, promovido pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC).
Realizada pelos repórteres Yago Sales, que agora compõe a equipe de jornalistas do Jornal Opção e Daniela Martins (continua na Tribuna do Planalto), foi investigada durante quatro meses.
A matéria revelou a rotina de exploração e agressões dos dependentes químicos internados no centro de recuperação Resgatando Vidas, em Goiânia.
Yago Sales, de apenas 23 anos, deu início à investigação ao presenciar uma agressão do diretor da unidade, Daniel Batista de Moraes, a um dos internos no terminal Isidoria, em Goiânia. Depois de publicar a reportagem, Sales e fontes sofreram ameaças. Entidades jornalísticas, como Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de Goiás, emitiram notas de apoio ao repórter e pedindo que a secretaria de segurança garantisse a proteção do jornalista e que o pastor, foragido da Justiça, como revelou apuração dos repórteres, fosse preso.
“O trabalho destes jornalistas chamou atenção para a existência de centros de tratamento de dependentes químicos que funcionam sem fiscalização adequada e cometem violações aos direitos dos internos. A reportagem teve um grande impacto local, causando a prisão do agressor, e alcançou repercussão nacional”, diz Julita Lemgruber, idealizadora do Prêmio e coordenadora do CESeC.
O segundo lugar foi para a série de reportagens do jornal O Povo, do Ceará, intitulada “Drogas: o fracasso das políticas”, dos repórteres Thiago Paiva e Igor Cavalcante. Escolhida pela sua abrangência e profundidade, a série discute a fragilidade das políticas relacionadas às drogas e a sua relação com o agravamento do contexto de violência e criminalidade no estado do Nordeste. O terceiro premiado foi a reportagem “20 quilos de maconha nas costas de uma criança”, do jornalista Paulo Renato Coelho Netto, publicada na Veja. Baseado no Mato Grosso do Sul, Paulo Renato revelou pela primeira vez na imprensa o recrutamento de adolescentes para o transporte de maconha do Paraguai para o Brasil.
O júri decidiu ainda atribuir duas menções honrosas: ao repórter André Cabette Fábio, pelo conjunto de três reportagens publicadas no site Nexo (“A nova intervenção na cracolândia: origens e precedentes de um problema crônico”; “Como evitar ou lidar com uma bad trip, sob a ótica da redução de danos”; e “A política e as cracolândias de São Paulo e Bogotá, segundo um pesquisador colombiano”). A segunda menção coube ao repórter Gabriel Saboia, que publicou no site da CBN a série de reportagens “Maconha além do tabu”, sobre o uso medicinal e o cultivo doméstico da erva. Os ganhadores receberão prêmios no valor total de R$ 14 mil reais.
O Prêmio
Criado em 2014 , com apoio da Abraji e apoio da Open Society Foundations, o Prêmio Gilberto Velho é o primeiro prêmio do Brasil dedicado ao tema das drogas. Este ano, o concurso recebeu 62 inscrições, de 38 veículos, abrangendo 13 estados brasileiros.
As polêmicas ações da prefeitura de São Paulo de repressão aos usuários de crack produziram várias reportagens sobre o assunto. Entre os inscritos, também foram abordados aspectos como o custo da proibição às drogas; a dependência do álcool; e estratégias terapêuticas para o uso abusivo de drogas. “Ano a ano, recebemos mais matérias, de melhor qualidade. Entre os premiados, procuramos valorizar tanto abordagens contextuais como os esforços investigativos”, diz a coordenadora do prêmio, a jornalista Anabela Paiva.
Os vencedores foram escolhidos na última sexta-feira, dia 17, quando o júri formado por jornalistas e especialistas no tema das drogas se encontrou na Universidade Candido Mendes. Estavam presentes: Angelina Nunes, professora da ESPM RJ e conselheira da Abraji; Cristiane Costa, coordenadora do curso de Jornalismo da UFRJ; Franciso Inacio Bastos, pesquisador da Fiocruz; Luciana Boiteux, pesquisadora e professora de Direito Penal; Natalia Viana, diretora da Agência Pública; Mauricio Fiore, sociólogo e pesquisador do Cebrap; e Silvia Ramos, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC). Bruno Torturra, jornalista e idealizador do site Fluxo, enviou seu voto.