RIO – Durante os três meses de intervenção federal na Segurança do Rio, a Rocinha foi a comunidade que mais recebeu operações policiais, com 15 ações. Em seguida, aparece a Vila Kennedy, com nove, e a Cidade de Deus, com sete. Nesse mesmo período, foram registrados, no estado, 12 assassinatos classificados como execuções, 10 agressões físicas contra civis e três episódios de cerceamento de ir e vir em comunidades. Os dados constam em um gráfico divulgado nesta quinta-feira (17) pelo Observatório da Intervenção Federal, que monitorou, ao longo desse período, 145 operações, nas quais 42 pessoas morreram e 173 armas foram apreendidas.
Com tantas operações, a Rocinha tem sido vítima de confrontos quase diários. Nesta quinta-feira, foi enterrado Francisco Nunes de França, de 75 anos, conhecido como Pipoca. Querido na comunidade, ele foi vítima de uma bala perdida durante um confronto entre policiais e traficantes na última segunda-feira.
Na visão de Silvia Ramos, cientista social, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) e do Observatório da Intervenção Federal, durante o período, ainda não foi promovida nenhuma grande mudança estrutural nas forças policiais ou nas ações estratégicas de Segurança Pública:
– A intervenção é uma medida de força, expõe as Forças Armadas a uma desmoralização e transmite a ideia errada de que segurança se resolve com guerra, soldado e tanque. Na verdade, a intervenção não tem realizado as mudanças estruturais que o Rio demanda há anos – observa.
O documento divulgado pelo Observatório traz outro dado alarmante: mesmo durante a vigência da intervenção, ocorreram no Rio 110 arrastões. Os dados foram fornecidos pela plataforma “Onde tem Tiroteio”. Já o aplicativo Fogo Cruzado contabilizou um aumento dos confrontos armados: foram registrados 2.309 tiroteios nos três meses de intervenção, contra 1842 no período imediatamente anterior.