Relatório aponta Rio como estado que mais registrou mortes em ações policiais

Menina Ágatha Félix foi morta numa ação da PM do Rio | Foto: Reprodução

Estudo do Observatórios da Segurança contabilizou 2.772 operações da polícia e 483 óbitos entre maio de 2019 e junho desde ano

SÃO PAULO. Relatório da Rede de Observatórios da Segurança divulgado nesta terça-feira aponta que o Rio foi o estado que mais registrou mortes, em números absolutos, em ações policiais entre junho de 2019 e maio deste ano. No período, foram contabilizadas 2.772 operações da corporação e 483 óbitos – ou seja, a cada cinco ações, uma vida foi perdida no território fluminense.

Em termos proporcionais, a Bahia ainda está em pior situação que o Rio. Lá, a relação é de uma morte a cada quatro ações. O estudo foi antecipado pela coluna de Ancelmo Gois. Em São Paulo, em cada sete ações policiais, uma pessoa morreu. No Ceará, esse número é de um a cada 25 operações; em Pernambuco, um a cada 59.

Os dados abrangem esses cinco estados e têm como base ações monitoradas pelo grupo de pesquisadores com base em notícias da imprensa, sites da polícia e de órgãos públicos e redes sociais.

Ao todo, o balanço identificou 7.062 ações policiais nesses cinco estados, com 984 mortos e 712 feridos. Nestes números, o Rio tem mais uma triste marca. Foi o estado onde foi contabilizada a maior quantidade de mortes de crianças e adolescentes: 19. Nesta conta, há histórias como a da estudante Ágatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, morta em 20 de setembro, quando foi atingida por um tiro de fuzil dentro de uma Kombi no Morro da Fazendinha, no Complexo do Alemão.

Em São Paulo, foram seis óbitos desta natureza e na Bahia outros dois. No Ceará e em Pernambuco, não foram apontadas mortes de crianças e adolescentes, de acordo com o relatório.

O projeto é intitulado “Racismo, Motor da Violência”. Segundo sua coordenadora e cientista social, Sílvia Ramos, o estudo tenta entender como o preconceito racial se expressa na ação das forças de segurança pública. O debate sobre a relação entre racismo e violência policial tem pautado uma série de atos e manifestações no mundo, sobretudo nos Estados Unidos sob o mote da campanha “black lives matter”, o que numa tradução livre significa “vidas negras importam”.  Na capital paulista, o capítulo mais recente ocorreu em 30 de maio, quando foram gravadas imagens de um policial de São Paulo pisando no pescoço de uma mulher negra de 51 anos, que já estava rendida e deitada no chão. O caso aconteceu em Parelheiros, região pobre e periférica na zona sul da cidade.

A comerciante, que trabalhava em um estabelecimento em frente a onde a abordagem ocorreu, também foi arrastada pelo chão e teve a perna quebrada por um policiais.

– Não vemos ação de prevenção e inteligência policial nesses estados que monitoramos. Também chama atenção a ausência de dados sobre a cor ou raça das pessoas abordadas em ações policiais que ocorrem predominantemente em periferias e favelas. Se a gente tivesse acesso a essas informações talvez verificasse que 90% das pessoas que a polícia revista são negros. E a polícia não fala disso. É como se não existisse racismo nessas ações – afirma Sílvia Ramos.

A Polícia Militar do Rio informou que as ações de enfrentamento ao crime organizado são planejadas com base em informações de inteligência e tem como preocupação central a preservação de vidas. A corporação informou ainda que o Rio possui características únicas que inviabilizam comparação com outros estados.

Durante a campanha eleitoral, o governador do Rio, Wilson Witzel, prometia uma ação mais ostensiva da PM. Em seu discurso, Witzel dizia que a polícia iria atirar em todo e qualquer criminoso que portasse fuzil e declarava que os agentes iriam “mirar na cabecinha”.

O relatório também cita dados de violência contra mulher nos cinco estados monitorados. Ao todo, foram computados 1.408 casos. Juntos, feminicídios e tentativas de feminicídio correspondem a 68,8% deste total – 454 e 516, respectivamente. São Paulo foi o estado com mais casos de feminicídios (175), seguido de Pernambuco (90) e Bahia (75).

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