O estudo destaca as acusações injustas e abordagens discriminatórias durante o uso de TRF pelas policiais da Bahia, especialmente em relação a pessoas negras e minorias étnicas. Na primeira versão do termo de referência do projeto de interiorização, o “estilo de cabelo” e o “estilo inferior” foram listados como parâmetros de análise das TRF. O texto evidencia como essas tecnologias são calibradas a partir de preceitos racializados em um estado que a cultura afro-brasileira é expressa de múltiplas formas, sobretudo através do cabelo.
A falta de transparência na seleção dos municípios que recebem o projeto de expansão do sistema é outra questão abordada pela pesquisa. A ausência de critérios transparentes levanta dúvidas sobre quais os objetivos do poder público e como esses municípios se beneficiariam com a instalação dessas câmeras.
O município de Seabra, na Bahia, é emblemático das contradições de prioridade nos investimentos públicos. Com uma taxa de esgotamento sanitário inferior a 5% e uma taxa de urbanização de apenas 0,9%, Seabra foi um dos escolhidos para receber a tecnologia de reconhecimento facial.
Essa escolha levanta questionamentos sobre as prioridades do governo ao alocar recursos em tecnologias falhas e controversas, enquanto questões fundamentais de infraestrutura e qualidade de vida da população são negligenciadas. Essa contradição evidencia o descompasso entre a realidade socioeconômica dos municípios beneficiados e o alto investimento destinado à implementação de TRF.