Vinte e um assaltos por dia

Número de roubos sofridos por pedestres e motoristas subiu 113,7% em parte da Zona Norte

Nos últimos seis anos, 21 pessoas foram assaltadas por dia nas ruas da Zona Norte, segundo pesquisa inédita do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec), da Universidade Candido Mendes, que dividiu a região em duas. Na parte que inclui, entre outros bairros, Tijuca, Grajaú, Méier, Piedade, Engenho Novo, São Cristóvão, Praça da Bandeira e Ilha do Governador, o crescimento do número de assaltos a transeuntes (ataques a pedestres e motoristas, quando o carro não é roubado) foi de 113,7%.

Quem mora no Cachambi, bairro vizinho ao Méier, sabe o perigo que ronda a Rua Getúlio. A jornalista Luciana Zanelli, de 30 anos, foi vítima de três assaltos na via, todos em plena luz do dia.

– Na primeira vez, apenas um assaltante me abordou, ordenando que eu entregasse o celular. Nas duas últimas vezes foram dois homens armados numa moto, que também levaram o meu celular – contou Luciana.

Ela disse que os assaltos têm sido freqüentes na Rua Getúlio e preocupam os moradores:

– É uma espécie de arrastão que dois homens numa moto fazem de manhã.

Moradores e comerciantes da Tijuca também sabem que pedestres são alvo de assaltos em diferentes pontos do bairro. O cruzamento das ruas Heitor Beltrão e Professor Gabizo, por exemplo, é um dos mais perigosos.

– Um bando de moleques com bicicletas passa assaltando todos que estão na calçada, sempre à noite – contou um comerciante.

Ligação da Tijuca com o Rio Comprido, a Rua Barão de Itapagipe também é palco de assaltos freqüentes, mas a motoristas. Muitos não têm mais coragem de parar nos sinais de trânsito.

Padaria foi assaltada 7 vezes em 7 anos na Tijuca

Assaltos a lojas são comuns no Largo da Usina e na Rua Conde de Bonfim, entre as ruas Conselheiro Zenha e Visconde de Figueiredo. A padaria Frontal da Tijuca, aberta há sete anos, já foi assaltada sete vezes:

– Uma média de um assalto por ano. Só fui à delegacia no primeiro assalto. Levei seis horas para registrar a queixa – disse o dono da padaria, que não quis se identificar.

Na Rua Uruguai também são comuns assaltos ao comércio. Há duas semanas, quatro bancas de jornal foram assaltadas no cruzamento da rua com a Conde de Bonfim.

No vizinho bairro do Grajaú, a Rua Araxá, a partir do cruzamento com a Rua Curupi, é área de risco para pedestres, que são constantemente assaltados. Na Rua Grajaú, os casos são mais violentos, com tiroteios e mortes. Os assaltos tanto a pedestres como a motoristas também são freqüentes na Rua Visconde de Santa Isabel, principalmente na esquina com a Barão de São Francisco.

Na Praça da Bandeira, os assaltos a pedestres e o roubo de carros preocupam moradores. A médica Vera dos Santos teve o carro roubado na quinta-feira, às 20h, na Rua Engenheiro Adel, um dos pontos críticos da região. O próprio delegado adjunto da 18 DP (Praça da Bandeira), Carlos Magalhães, admite que vendeu a moto porque costumava passar por um ponto onde ocorrem muitos roubos de motocicletas: a Avenida Radial Oeste, perto da Favela do Metrô.

– Realmente vendi minha moto por causa disso – disse o delegado.

Colaborou Rodrigo March

   

Região concentra maioria dos roubos de carro

Do total de casos registrados na capital em março, 68,8% ocorreram na área. Na Tijuca, medo maior é de arrastões

Dados da Secretaria de Segurança Pública mostram que a Zona Norte concentra a maioria dos roubos de veículos da cidade. Em março passado, 68,8% dos casos da capital ocorreram na região. Há seis meses, a universitária Daniele Freitas, de 23 anos, entrou para a estatística.

— Estava estacionando o carro na Rua Odilon Araújo (no Cachambi), quando fui abordada pelos ladrões. Aqui é triste. Muitos moradores já tiveram o carro roubado nesta rua — disse a estudante.

Na Tijuca, o terror dos moradores são os arrastões que os bandidos fazem para roubar carros. Na região conhecida como Alto Uruguai, as ruas Andrade Neves, José Higino e Desembargador Izidro são consideradas pontos críticos. Nas ruas Dona Delfina e Maria Amália, os roubos de carros e os assaltos a transeuntes acontecem principalmente depois das 20h e nos fins de semana, quando o trecho fica mais deserto. Os bandidos usam motos e carros para bloquear as ruas. A fuga é facilitada pelo acesso rápido aos morros do Andaraí e da Cruz.

  

‘Os bandidos atuam sempre na mesma região’

Esse tipo de crime é freqüente também na Rua dos Araújos. Segundo moradores, os roubos acontecem geralmente às 7h e às 18h, no horário da mudança de turno da PM. Os arrastões também não são raros na Rua Garibaldi. Bandidos fecham a via com um carro para assaltar motoristas, principalmente à noite e ao amanhecer.

— Já perdi dois carros em arrastões no bairro. Não sei como a polícia não consegue impedir esses ataques. Os bandidos atuam sempre na mesma região e no mesmo horário — disse um empresário da Tijuca, que pediu para não ser identificado.

Na Ilha do Governador, o medo de falsas blitzes deixa a Estrada das Canárias deserta à noite. No trecho próximo à Vila Joaniza, bandidos costumam montar barreiras para roubar carros ou carteiras e celulares dos motoristas. No Méier, moradores reclamam da falta de policiamento na Rua Aquidabã. Outros pontos críticos são os acessos à Linha Amarela no Méier, no Encantado e em Pilares.

A pesquisa feita pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania mostrou que, de 2000 a 2005, ocorreram na Zona Norte 97.099 roubos de veículos, o que representa uma média de 44 casos por dia. Nesse período, o crescimento foi de 47% na região.

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