‘Para socióloga, Rio tem UPPs, mas não política de segurança’

A socióloga Julita Lemgruber, ex-diretora do sistema penitenciário do Rio, diz que o Estado tem política de UPPs, mas não de segurança. “A polícia do Rio soluciona 8% dos homicídios”, diz.

Folha – O Estado atribui os conflitos a ordens de chefes do tráfico que estão presos.

Julita Lemgruber – O Brasil tem meio milhão de pessoas presas. Meia dúzia tem alguma responsabilidade nisso. Por causa dela, amanhã haverá deputado propondo medida legislativa de restrição.

Isso prejudica milhares de pessoas que cumprem sua pena com bom comportamento para obter benefícios legais. Vão querer cortá-los.

Esses homens e mulheres vão sair da cadeia um dia. Se a gente os trata com desumanidade, tirando a possibilidade de contato com o mundo aqui fora, estaremos criando monstros.

O país tem presos demais?

O Brasil prende demais e mal. Menos de 10% dos homicídios são resolvidos. Quem é preso hoje? Usuário de crack furtando objetos de pequeno valor, por exemplo.

Meio milhão de presos é um investimento na insegurança. A noção de que punir é pôr na cadeia tem de mudar.

Qual a origem do problema de segurança no Rio?

Houve falta de continuidade na política de segurança.

A primeira discussão é sobre o que é política de segurança. No Rio, há uma política de UPPs, mas não de segurança. Conseguiram articular muito bem a estratégia das UPPs. Mas há 13 comunidades com UPPs. Qual a política para o resto do Estado?

Como vê a gestão Beltrame?

Tem muitos méritos. Primeiro, o de ser absolutamente séria. Nos dois primeiros anos do governo Cabral, a violência da polícia chegou a níveis insuportáveis. Mais de mil mortes por ano. Acordaram que não se combate violência com violência.

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