A quarta edição do Prêmio Gilberto Velho Mídia e Drogas teve inscrições abertas em 02 de outubro e encerradas em 05 de novembro de 2017 . Iniciativa do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), o prêmio tem apoio da Open Society Foundations e parceria com a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo). Seu propósito é estimular reportagens sobre legislação e políticas públicas relacionadas às drogas.
Este ano houve 62 inscrições, de 38 veículos, abrangendo 13 estados brasileiros. Foram aceitas reportagens publicadas na mídia impressa ou na internet entre 1º de novembro de 2016 e 5 de novembro de 2017.
Em 17/11, foi decidida a premiação por um júri de jornalistas e especialistas no tema das drogas, composto por Angelina Nunes, professora da ESPM RJ e conselheira da Abraji; Cristiane Costa, coordenadora do curso de Jornalismo da UFRJ; Franciso Inacio Bastos, pesquisador da Fiocruz; Luciana Boiteux, pesquisadora e professora de Direito Penal; Natalia Viana, diretora da Agência Pública; Mauricio Fiore, sociólogo e pesquisador do Cebrap; e Silvia Ramos, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC). Bruno Torturra, jornalista e idealizador do site Fluxo, enviou seu voto.
A reportagem investigativa “Foragido da justiça, pastor explora usuários de drogas em recuperação”, publicada no jornal goiano Tribuna do Planalto, ganhou o primeiro lugar. Realizada pelos jornalistas Yago Sales e Daniela Martins ao longo de quatro meses, a matéria revelou a rotina de exploração e agressões dos dependentes químicos internados no centro de recuperação Resgatando Vidas, em Goiânia.
Yago Sales, de apenas 23 anos, deu início à investigação ao presenciar uma agressão do diretor da unidade, Daniel Batista de Moraes, a um dos internos. O repórter sofreu ameaças após a publicação. “O trabalho destes jornalistas chamou atenção para a existência de centros de tratamento de dependentes químicos que funcionam sem fiscalização adequada e cometem violações aos direitos dos internos. A reportagem teve um grande impacto local, causando a prisão do agressor, e alcançou repercussão nacional”, diz Julita Lemgruber, idealizadora do Prêmio e coordenadora do CESeC. A equipe da Tribuna do Planalto foi apoiada em declarações oficiais de instituições como a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e Sindicato dos Jornalistas de Goiás, que exigiram das autoridades a proteção de Yago. O site Ponte Jornalismo republicou a investigação.
O segundo lugar foi para a série de reportagens do jornal O Povo, do Ceará, intitulada “Drogas: o fracasso das políticas”, dos repórteres Thiago Paiva e Igor Cavalcante. Escolhida pela sua abrangência e profundidade, a série discute a fragilidade das políticas relacionadas às drogas e a sua relação com o agravamento do contexto de violência e criminalidade no estado do Nordeste. O terceiro premiado foi a reportagem “20 quilos de maconha nas costas de uma criança”, do jornalista Paulo Renato Coelho Netto, publicada na Veja. Baseado no Mato Grosso do Sul, Paulo Renato revelou pela primeira vez na imprensa o recrutamento de adolescentes para o transporte de maconha do Paraguai para o Brasil.
O júri decidiu ainda atribuir duas menções honrosas: ao repórter André Cabette Fábio, pelo conjunto de três reportagens publicadas no site Nexo (“A nova intervenção na cracolândia: origens e precedentes de um problema crônico”; “Como evitar ou lidar com uma bad trip, sob a ótica da redução de danos”; e “A política e as cracolândias de São Paulo e Bogotá, segundo um pesquisador colombiano”). A segunda menção coube ao repórter Gabriel Saboia, que publicou no site da CBN a série de reportagens “Maconha além do tabu”, sobre o uso medicinal e o cultivo doméstico da erva. Os ganhadores receberão prêmios no valor total de R$ 14 mil reais.
As polêmicas ações da prefeitura de São Paulo de repressão aos usuários de crack produziram várias reportagens sobre o assunto. Entre os inscritos, também foram abordados aspectos como o custo da proibição às drogas; a dependência do álcool; e estratégias terapêuticas para o uso abusivo de drogas. “Ano a ano, recebemos mais matérias, de melhor qualidade. Entre os premiados, procuramos valorizar tanto abordagens contextuais como os esforços investigativos”, diz uma das coordenadoras do prêmio, a jornalista Anabela Paiva.
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Veja também
- Edições anteriores do Prêmio Gilberto Velho de Mídia e Drogas – 2016, 2015, 2014
- Projeto Drogas: Guerra, descriminalização e regulação