Estudo aponta: grande mídia não destaca ações policiais contra pessoas negras

Uma em cada sete ações da polícia teve pelo menos uma morte – Foto: Reprodução Twitter

A Rede de Observatórios da Segurança publicou um levantamento, na última terça-feira (14), que mostra, de certa forma, a omissão por parte de veículos de comunicação quando envolve violência policial. De acordo com o estudo, dos mais de 12 mil registros analisados, apenas 50 deles tratavam sobre racismo ou injúria racial. A análise dos dados foram realizados em cinco estados,  Bahia, Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo.

Segundo o levantamento, em um ano, o estudo contabilizou mais de sete mil registros de ações policiais em jornais, sites, portais e mídias sociais. Porém, em apenas uma das notícias fazia menção à palavra ”negro”.

Segundo Bruna Sotero, articuladora nacional da Rede de Observatórios da Segurança, os números são reveladores de como o racismo está ausente do debate público. “A gente sabe que as pessoas pretas e pardas são as que mais são presas e mortas e a gente não consegue essas informações através das mídias. Isso é muito grave por que a gente tá deixando invisível uma parte da população e a parte que mais sofre com as políticas de segurança adotadas pelo estado”, afirmou.

Emocionada, Ilsimar de Jesus, mãe de Victor Hugo, assassinado por um policial em São João de Meriti (RJ), em 2018, relembrou o dia que perdeu seu filho para a violência do estado. “Ele estava caído no chão, o policial mandou meu filho se ajoelhar na calçada. Isso foi o relato dos vizinhos que viram. E meu filho se abaixou, falou que morava aqui e quando meu filho se abaixou, o policial atirou no coração dele. É muito difícil viver com a dor da saudade de um filho, com a falta dele, do abraço, do cheiro”, desabafou.

O balanço de casos trazidos pelo estudo da Rede confirma que a letalidade das polícias no Brasil continua alta: as operações e patrulhamentos monitorados pelos cinco Observatórios, durante um ano, resultaram em 984 mortos e 712 feridos. Uma em cada sete operações monitoradas registrou ao menos uma morte.

Números por estado

Com mais de 2700 operações policiais, o Rio de Janeiro é o líder em intervenções, seguido por São Paulo, com mais de 2200 operações. O estado fluminense registrou o maior número de vítimas durante as ações, totalizando 483 mortos, sendo 19 crianças, e 479 feridos.

João Pedro foi morto com um tro de fuzil, dentro de casa, no Rio de Janeiro – Foto: Divulgação Internet

Além disso, o estado de São Paulo lidera os números quando o caso é feminicídio. De acordo com o levantamento da Rede de Observatórios, foram 175 assassinatos de mulheres, enquanto Pernambuco registrou 90 e a Bahia, 75. Ainda segundo o levantamento da Rede de Observatórios, foram registrados 291 assassinatos de menores de idade e 27 tentativas de homicídio.

Para Bruna Sotero, a quantidade de ações das polícias no Rio de Janeiro e a forma de abordagem fazem com que os números sejam mais elevados. “No Rio [de Janeiro] temos um grande número de favelas e a política de enfrentamento do estado faz com que aumente o número de confrontos com grupos armados que habitam nas favelas. Essa nuvem de fatores faz com que a gente tenha predominância desse crime. Sendo assim, cada um desses estados tenha a sua própria dinâmica”, finalizou.

A pesquisa completa, com todos os dados, está disponível no link http://observatorioseguranca.com.br/wp-content/uploads/2020/07/Racismo-motor-da-violencia-1.pdf.

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