Estudo diz que negros são maioria das vítimas da violência policial, mas não são destaque na mídia

Apesar da grande maioria das vítimas da violência policial no pais ser composta de negros, a abordagem do racismo estrutural é praticamente inexistente na mídia brasileira. É o que aponta um relatório divulgado  nessa terça-feira (14) pela Rede de Observatórios da Segurança. Em um ano o estudo contabilizou mais de sete mil registros de ações policiais em jornais, sites, portais e mídias sociais, mas apenas uma das notícias fazia menção à palavra ”negro”.

Do total de mais de 12,5 mil registros analisados,  apenas 50 notícias tratavam sobre racismo ou injúria racial.

O trabalho da Redes de Observatórios analisou registros de eventos relacionados à segurança pública e à violência em cinco estados: Bahia, Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo.

A articuladora nacional da Rede de Observatórios, Bruna Sotero, avalia que os números são reveladores de como o racismo está ausente do debate publico.

Há pouco mais de dois anos, a violência policial marcou pra sempre a vida de duas familias da baixada fluminense. Dois jovens amigos, Victor Hugo de Jesus, de 17 anos,  e Vitor Oliveira, de 18, perderam a vida em uma ação da polícia na Vila São João, em São João de Meriti. Em comum, além dos nomes, não por acaso, os dois eram pardos ou pretos. Eles estavam em uma moto quando foram abordados e mortos por policiais militares.  Ilsimar de Jesus, mãe de Victor Hugo, relembra como se fosse hoje o dia da tragédia e conta  que desde então não vive mais, apenas sobrevive.

O balanço de um ano de casos trazidos pelo estudo da Rede de Observatórios confirma que  a letalidade das polícias no Brasil continua alta: as operações e patrulhamentos monitorados pelos cinco Observatórios durante um ano resultaram em 984 mortos e 712 feridos. Uma em cada sete operações monitoradas registrou ao menos uma morte.

O Rio de Janeiro foi o estado que registrou o maior número de operações policiais, mais de 2,7 mil, seguido de São Paulo, com mais 2,2 mil.  O estado fluminense também registrou o maior número de vítimas nestas ações, com 483 mortos, incluindo 19 crianças,  e 479 feridos.

A cidade do Rio lidera o número de chacinas. No total, nos cinco estados, foram registradas 101 eventos em que três ou mais pessoas foram mortas na mesma ocasião. Entre as cidades, a capital fluminense contabilizou 23, Salvador 17 e Fortaleza 7. Segundo Bruna Sotero, não por acaso o Rio está no topo desses números.

São Paulo lidera o número  de feminicídios, de acordo com o levantamento da Rede de Observatórios. Foram 175 mulheres mortas de forma brutal. Pernambuco registrou 90 e a Bahia, 75.

A Rede também monitorou casos de violência letal contra as crianças e adolescentes. Ao todo, foram registrados 291 assassinatos de menores de idade e 27 tentativas de homicídio.

No monitoramento de ataques de grupos criminais, o  Ceará desponta com o maior número de ocorrências no período, 117,  com destaque para a onda de ataques ocorridos em setembro do ano passado.

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