Medo a pé ou de carro na Barra

Nem mesmo os grandes condomínios e shoppings garantem a segurança de quem circula por Barra da Tijuca, Recreio e Jacarepaguá: o número de assaltos a transeuntes (ataques a pedestres e motoristas, quando o carro não é roubado) subiu na região 64,9% nos últimos seis anos, segundo pesquisa inédita do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec), da Universidade Candido Mendes, baseada em dados da Secretaria de Segurança. A maioria dos casos, de acordo com quem mora na área, acontece no fim da tarde e à noite, quando é grande o fluxo de veículos. Em levantamento feito pelo GLOBO, moradores e comerciantes indicaram 47 pontos de maior violência. Os sinais de trânsito nas principais vias são apontados como pontos críticos.

A geografia da violência na região é velha conhecida dos moradores. E das autoridades de segurança também. Reunidos há seis meses, policiais e moradores listaram os 40 pontos de maior insegurança nos bairros. O objetivo era instalar câmeras nesses lugares, mas até hoje o projeto não saiu do papel.

Assaltos a pedestres são freqüentes em frente ao shopping Città America, na passarela junto à Igreja São Francisco de Paula, nas proximidades da praça em frente ao Condomínio Riviera Del Fiori e embaixo do viaduto que liga a Praça Professor Sousa Araújo ao shopping Downtown. As vítimas preferidas são as mulheres.

– Dois homens roubaram meu celular embaixo do viaduto. Não passo mais sozinha ali – contou uma professora que mora na Barra.

 

Assalto em plena luz do dia na Barra

Já os motoristas são alvos em sinais de trânsito. Os pontos mais críticos, segundo os moradores, ficam na Avenida Ayrton Senna, na altura do supermercado Makro, e na Avenida das Américas, próximo ao shopping Città America, à concessionária Eurobarra e ao Condomínio Riviera Del Fiori.

– Um dos pontos mais problemáticos é o sinal da Avenida das Américas em frente ao supermercado Extra e ao shopping Città America, onde há muitos moradores de rua, sobretudo à noite. Eu já fui assaltada no sinal em frente ao Extra duas vezes este ano – contou a estudante Luciana Lins, acrescentando que não registrou os roubos na delegacia. – Só ia perder tempo.

O empresário Gustavo Barbosa foi atacado no mesmo ponto:

– Semana passada, fui assaltado por dois pivetes em plena luz do dia na Avenida das Américas, em frente ao Città. Levaram meu relógio. Quem conhece o bairro sabe que o sinal é perigoso. Só a polícia parece não saber – criticou

A presença de PMs e guardas municipais em alguns sinais nos horários de rush tem diminuído o número de assaltos, mas os casos ainda acontecem. Kleber Machado, que há 15 anos comanda o Barralerta, atribui os roubos à falta de policiamento ostensivo:

– No início do ano, retiraram os 15 carros do Batalhão de Vias Especiais que até 2005 circulavam nas principais vias da região. O batalhão simplesmente se retirou da Barra e do Recreio.

A Avenida Lúcio Costa também é cenário de assaltos e roubos de carro no trecho da Reserva. Segundo moradores, nos fins de semana ensolarados, homens armados roubam carros à luz do dia. À noite, em qualquer dia da semana, os alvos são os quiosques.

Já os arrombamentos de automóveis acontecem com freqüência na Rua Antônio Maroun, atrás do shopping Barra World, no Recreio. Os ladrões – um casal – até são conhecidos pelos seguranças de ruas transversais. O diretor da Associação de Moradores do Recreio (Amor), Cleomar Paredes, já foi vítima da dupla:

– Meu carro foi arrombado por esse casal, ano passado, mas continuamos recebendo queixas de outras vítimas.

O presidente da Câmara Comunitária da Barra, Delair Dumbrosck, defende um policiamento ostensivo também nos acessos à Barra:

– Não adianta resolver problemas da Barra, com mais policiamento, se ao sair do bairro, na Linha Amarela, por exemplo, posso ser uma vítima. Já assisti a uma blitz na via expressa, com tiroteio e tudo. Já passei aperto no Alto da Boa Vista e na Niemeyer não me sinto seguro.

O comandante do 18 BPM (Jacarepaguá), tenente-coronel César Couto Lima, reconheceu que os assaltos a transeuntes aumentaram, mas informou que as áreas de maior concentração comercial receberam reforço no policiamento:

– A presença de jovens do programa Voluntários da Paz ajudou a reduzir a criminalidade em áreas críticas como os largos da Taquara e da Freguesia – disse ele, que conta com um efetivo de 400 homens. – O quadro total do batalhão deveria ser de 800. Estamos trabalhando com a metade do efetivo, mas tem sido suficiente.

Procurado ontem, o comandante do 31 BPM (Recreio), tenente-coronel Paulo Mouzinho, disse que estava em reunião e não poderia falar.

 

Insegurança dentro da própria casa

Número de assaltos a residência na região cresce 39,3% de 2000 a 2005

O aposentado Mauro Netto viveu momentos de desespero quando sua casa foi invadida por bandidos, em 2003. Ele foi uma das vítimas das quadrilhas de assalto a residência que levam medo a moradores da Barra, do Recreio, de Jacarepaguá e de Vargem Grande. Entre os crimes estudados pelo Cesec, esse teve o segundo maior índice de crescimento (39,3%) na área entre 2000 e 2005. Metade dos assaltos a residência no período aconteceu na área da 16 DP (Barra). O restante foi registrado na 32 DP (Taquara), 28,6%; e na 41 DP (Tanque), 21,4%.

— Levaram tudo que podiam: celular, dinheiro, telefone fixo, cafeteira, batedeira. Eu estava dormindo, quando acordei com o barulho e vi a casa toda aberta. Eles saíram correndo e deixaram coisas no quintal da casa que não tiveram tempo de pegar — contou Netto, que mora em Curicica, Jacarepaguá.

Segundo a economista e antropóloga Leonarda Musumeci, coordenadora da pesquisa, o número de casos começou a crescer em 2002, teve um pico em 2003 e manteve-se alto nos dois anos seguintes. Cleomar Paredes, diretor da Associação de Moradores do Recreio, disse que a causa do problema é a falta de policiamento:

— Apenas duas patrulhas vigiam o bairro à noite. Estamos à míngua. E o comandante do batalhão não tem o que fazer porque falta efetivo — reclamou.

Nem segurança particular impede crimes na Barra

No Jardim Oceânico, na Barra, nem mesmo a segurança particular tem impedido assaltos. O presidente da associação de moradores da região, Eric Pereira, já sofreu dois assaltos — um na rua e outro em seu apartamento — e uma tentativa de seqüestro no bairro. A advogada Vanessa Aigner disse que o prédio vizinho ao seu foi invadido por homens armados há 15 dias.

— Foi numa quarta-feira, por volta das 13h. Dois assaltantes renderam um morador e invadiram o prédio. Roubaram tudo do apartamento dele — contou a advogada, que já foi vítima de ladrões que arrombam carros no Pomar da Barra.

Moradora da Estrada do Bananal, em Jacarepaguá, há 20 anos, a professora Márcia de Castro teve a sua casa assaltada no ano passado. Os ladrões pularam o muro e a deixaram trancada no banheiro enquanto roubavam objetos de valor.

— Tive medo de ser agredida pelos dois bandidos armados que invadiram a minha casa. Muito mais do que aparelhos de DVD, TV e som, eles roubaram a tranqüilidade que eu tinha de estar em casa. Por causa da violência, muitas casas de Jacarepaguá que não ficam em condomínios com vigilantes estão sendo demolidas. Em seu lugar, prédios são construídos — disse a professora.

Além dos assaltos a residência, moradores e comerciantes de Jacarepaguá temem os ataques de bandidos nas ruas próximas à Cidade de Deus.

— Hoje, sem avisar, já não dá mais para entrar na Cidade de Deus — disse um motorista antigo da região.

Por causa da proximidade com a comunidade, a Avenida Geremário Dantas, a Estrada Marechal Miguel Salazar Mendes de Moraes e o trecho da Estrada dos Bandeirantes logo após a segunda via são considerados os lugares mais perigosos, sobretudo à noite.

Um inspetor da delegacia da Taquara disse que os bandidos usam motos sem placas e, às vezes, coletes de mototaxista como disfarce. Na terça-feira passada, um posto de gasolina foi assaltado de madrugada na esquina da Geremário Dantas com a Rua Edgar Werneck. O ladrão foi preso pela PM após render o caixa do posto e dois taxistas. No carnaval, outro posto foi assaltado duas vezes na Estrada do Gabinal, também próximo à Cidade de Deus.

No último sábado, o dono de uma pastelaria foi assaltado na Estrada dos Bandeirantes, em frente à lanchonete Habib’s. Como os outros comerciantes da área, ele também tem medo de falar sobre o crime.

versao para impressão

Mais Reportagens