Mulher na PM: Muito cacique para pouco índio

Pesquisa mostra que Rio tem maior proporção de oficiais do país; presença feminina na corporação ainda é baixa

 

Na manhã de 4 de fevereiro, a segunda-tenente Catiane Marinho Ferreira, do 23º BPM (Leblon), foi saudada como heroína por moradores de um prédio do Leblon mantidos como reféns durante um assalto. Ela comandou as negociações que levaram à rendição dos bandidos. A bem-sucedida atuação de Catiane ainda é uma cena rara no Rio. Não exatamente pelo roteiro da ação, mas pelo papel da mocinha. Segundo uma pesquisa do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes (Cesec/Ucam), a participação feminina na PM do Estado do Rio de Janeiro é tímida se comparada com outros estados.

 

Participação feminina na PM do Rio é de apenas 4%

O estudo, que inclui 22 dos 26 estados e o Distrito Federal, revela que em 2003 as mulheres representavam 4% do efetivo da PM fluminense, percentual abaixo da média nacional, de 7%, que, segundo as pesquisadoras Barbara Soares e Leonarda Musumeci, já é considerada baixa. Nos Estados Unidos, dizem elas, a proporção de mulheres nas polícias chega a 14%. A pesquisa constatou ainda que, diferentemente de outros estados, no Rio, em 2003, grande parte das PMs atuava em atividades internas, principalmente em hospitais e no Quartel-General.

– O Rio está entre os seis estados do país com menor participação de mulheres na PM – afirma Leonarda Musumeci.

Em relação à hierarquia, o estudo mostra que o Rio tem a maior proporção de mulheres oficiais entre os estados pesquisados: 40,5%, percentual quatro vezes maior que a média dos outros estados (10%) e sete vezes superior à participação de oficiais no efetivo masculino.

– O que nós sugerimos é um melhor aproveitamento do trabalho feminino na PM – afirma Barbara Soares, coordenadora da pesquisa. – Há várias áreas para atuar como o enfrentamento da violência doméstica e o policiamento comunitário, o que não significa subir morro e dar tiro.

Uma outra pesquisa do Cesec – específica sobre abordagens policiais – revela que, para a maioria dos cariocas entrevistados, se houvesse mais mulheres no policiamento ostensivo, a PM do e ganharia em relação à eficiência (60,5%) e respeito aos cidadãos (74,2%). E teria menos problemas relacionados a racismo (60%), corrupção (63,7%) e violência (74%).

De acordo com o estudo, feito com apoio da Fundação Ford, a PM do Rio tem 36.709 homens e 1.517 mulheres, num total de 38.226. A primeira turma feminina da PM se formou em 1982.

Márcia e Ailton: casamento sobrevive à hierarquia

A major Márcia Dias de Andrade, de 37 anos, entrou para a PM do Rio em 1985, como soldado. Embora hoje exerça uma função interna – é secretária do gabinete do comandante geral – ela diz estar preparada para qualquer missão externa.

Márcia é casada com o terceiro-sargento Ailton de Oliveira Silva. Eles servem em lugares diferentes, mas todas as vezes que se encontram – em ambiente de trabalho – Ailton bate continência para a mulher:

– É a disciplina – diz ela.

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