Segurança enxugando gelo

Pesquisa mostra que polícia mata mais, morre mais e índices de violência não caem

  

O número de vítimas de autos de resistência (civis mortos supostamente em confronto com a polícia) no estado aumentou 153,5% entre 1998 e 2002, segundo uma pesquisa recém-concluída pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes (Cesec/Ucam), feita com base nos registros policiais. O levantamento mostra que em 1999, quando foram registradas 289 vítimas, houve uma queda de 18,5% em relação ao ano anterior (355 casos). Mas, a partir daí, o número só fez crescer, chegando a 900 mortos em 2002.

Por outro lado, o número de policiais mortos também aumentou nos últimos anos. De acordo com a pesquisa do Cesec, em 1998 morreram no Estado do Rio 99 PMs, número que saltou para 170 em 2002, representando um crescimento de 71,7%. De 2001 a 2002, o número de PMs mortos no estado quase dobrou: subiu 86,8%.

Para a pesquisadora Leonarda Musumeci, professora do Instituto de Economia da UFRJ e coordenadora da área de criminalidade e violência do Cesec, as mortes de civis em supostos confrontos com a polícia e de policiais militares não servem como indicadores de eficiência da polícia:

— Esses números indicam que a polícia está agindo de forma equivocada, porque não está resolvendo o problema da criminalidade. O número de homicídios se estabilizou num patamar alto e não se consegue mais reduzi-lo. O número de roubos cresceu. Quer dizer, está havendo mais mortes de civis, mais sacrifício dos policiais e tudo isso sem qualquer resultado palpável, sem qualquer benefício para a população.

Taxas de roubos também aumentam

Como mostrou reportagem do GLOBO ontem, a pesquisa do Cesec revela que nos últimos 12 anos a taxa de roubos (de todos os tipos, por cem mil habitantes) subiu 130% no estado e 129% na capital fluminense. Entre 1998 e 2002 — período em que aumentou o número de autos de resistência — o crescimento foi de 91% na capital e de 72,7% no estado.

Analisada separadamente, a taxa de assaltos a pedestres também mostra aumento considerável. Na cidade, passou de 111,64 (por cem mil habitantes), em 1998, para 205,71 em 2002, o que significa crescimento de 84%. E saltou de 76,3 para 127,8 no mesmo período, no estado, subindo 67%.

A taxa de homicídios registrou pequenas oscilações no período, mas se manteve praticamente estável. Na capital, ela passou de 36,8 (por cem mil habitantes), em 1998, para 45,2 em 2002. No estado, ela foi de 41, em 1998, e de 46,2 ano passado.

Apesar de estável, a taxa é considerada alta pela pesquisadora do Cesec. Numa comparação com outras cidades (no ano de 2000), o índice de homicídios do Rio superava o de cidades como Chicago e Washington, nos Estados Unidos, e Bogotá, na Colômbia, embora estivesse bem abaixo do de Cáli, também na Colômbia.

O estudo do Cesec mostra ainda que as apreensões de armas e de drogas aumentaram no período 1998-2002. O número de registros de apreensões de armas subiu 174% (de 2.238 para 6.136). E o de drogas passou de 4.297 para 5.006, aumentando 16,4%. Para Leonarda, também nesse caso os números oficiais não significam eficiência policial.

— Não se sabe se é porque há mais armas e drogas em circulação — diz a pesquisadora. — É bom que a polícia esteja fazendo mais apreensões, mas isso não significa que a criminalidade está baixando ou que o poder de fogo das quadrilhas está diminuindo.

Os dados sobre apreensões de drogas e armas se referem ao número de registros e não à quantidade.

O secretário de Segurança Pública, Anthony Garotinho, contestou ontem os dados da pesquisa:

— Os dados oficiais mostram quedas nos homicídios. Com exceção do período de nove meses em que a governadora Benedita implementou uma política de segurança de muito confronto e cresceu o número de autos de resistência, a tendência tem sido de queda nos últimos dez anos — disse Garotinho.

Segundo Leonarda, a pesquisa foi feita com números oficiais dos registros de ocorrência da Polícia Civil, das planilhas da Asplan e do Diário Oficial do estado que mostram um crescimento contínuo dos autos de resistência a partir de 1998.

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